Trump, geopolítica e a fragilidade estratégica do Brasil

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O mundo está mudando rapidamente, e o Brasil, sem uma estratégia clara, corre o risco de ser arrastado pelos ventos da geopolítica. A volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos expõe fragilidades estruturais da política externa brasileira, deixando o país mais vulnerável às imposições de uma ordem global fragmentada. Sem alianças sólidas ou um plano de longo prazo, resta-nos apenas reagir – e nem sempre a tempo.

A Nova Ordem Global e o Papel de Trump

A pax americana, que durante décadas garantiu relativa previsibilidade nas relações internacionais, está se dissolvendo diante da ascensão de novas potências e da postura agressiva de Trump. Para o presidente a diplomacia tradicional e as alianças multilaterais são fraquezas. Sua abordagem coloca os interesses americanos acima de qualquer compromisso internacional, desconsiderando acordos históricos e reconfigurando o papel dos EUA como potência global.

Nesse cenário, a geopolítica se reorganiza em um modelo de disputa entre grandes blocos, reminiscentes dos acordos da Conferência de Yalta. Enquanto a Europa e a Eurásia se tornam áreas de influência de Vladimir Putin, a China consolida seu domínio na Ásia. O que resta para os Estados Unidos? Um hemisfério ocidental sob seu total controle, sem espaço para posicionamentos independentes de países como o Brasil.

Trump não reconhece a autonomia das potências médias. Para ele, nações como o Brasil não têm o direito de estabelecer seus próprios rumos – apenas de se alinhar às decisões de Washington. Esse novo paradigma significa que a flexibilidade que o Brasil manteve nos últimos anos, equilibrando relações entre China e EUA, pode estar com os dias contados.

O Brasil e Sua Vulnerabilidade Estratégica

A fragilidade do Brasil nesse novo contexto não é obra exclusiva de Trump. Durante décadas, a política externa brasileira oscilou entre a busca por autonomia e uma postura passiva diante das grandes potências. Sem um planejamento estratégico consistente, nossa diplomacia foi sendo moldada pelas circunstâncias, sem um norte definido.

A dependência econômica brasileira amplia ainda mais essa vulnerabilidade. O país é um dos principais exportadores de commodities para a China, mas mantém laços comerciais essenciais com os Estados Unidos e a Europa. Se uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo se intensificar, o Brasil pode até ter ganhos imediatos no agronegócio, mas, no longo prazo, enfrentará um cenário de instabilidade.

Além disso, setores estratégicos como a indústria de defesa e tecnologia podem ser diretamente afetados. O Brasil tem acordos militares e tecnológicos tanto com potências ocidentais quanto com países do grupo BRICS. Se Trump adotar uma postura mais agressiva contra aqueles que mantêm relações com a China e a Rússia, o Brasil pode se ver pressionado a fazer escolhas que limitem seu desenvolvimento.

O Futuro do Brasil no Cenário Geopolítico

A pergunta inevitável é: o que o Brasil pode fazer para reduzir sua vulnerabilidade e evitar ser apenas um espectador no tabuleiro geopolítico?

Primeiramente, é essencial fortalecer alianças estratégicas que garantam maior autonomia ao país. O Brasil precisa diversificar ainda mais seus parceiros comerciais e tecnológicos, reduzindo sua dependência de um único bloco de poder. O fortalecimento de laços com a União Europeia e países emergentes pode ser uma alternativa para escapar da polarização entre China e Estados Unidos.

Além disso, o Brasil precisa desenvolver uma estratégia externa clara e consistente, baseada em seus interesses de longo prazo. Isso inclui um debate aprofundado sobre qual papel o país quer desempenhar no mundo e quais setores devem ser prioritários em sua inserção internacional.

Por fim, é necessário fortalecer a base industrial e tecnológica do país. Investimentos em inovação, defesa e infraestrutura são fundamentais para garantir que o Brasil tenha mais poder de barganha em um mundo onde a força econômica e militar definem os rumos da diplomacia.

O retorno de Trump pode ser apenas um dos sinais de que a política internacional está entrando em uma nova fase, menos previsível e mais agressiva. Se o Brasil não quiser ser apenas um espectador nesse processo, precisará agir agora para definir seu próprio caminho – antes que outros o façam por nós.

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