Em 26 de outubro de 2014, o Cessna PP-FFR decola de Santa Maria do Boiaçú (RR) com destino a Boa Vista (RR), mas não aterrissa no local planejado. Quatro dias depois, a aeronave é localizada com apenas um bilhete dos tripulantes, que deixaram o local debilitados, com fome e medo de onças. No dia seguinte, eles são localizados a 200 km da capital roraimense: cinco, incluindo uma gestante e um bebê, todos bem. Participaram da missão de busca e salvamento um avião SC-105 Amazonas SAR do Esquadrão Pelicano (2°/10° GAV) e um helicóptero H-60 Black Hawk do Esquadrão Harpia (7º/8º GAV).
Quando se fala em socorro a pessoas desaparecidas, a imagem de aeronaves buscando e resgatando sobreviventes é o que vem à mente do público. Porém, essa é apenas uma parte de todo um sistema desenvolvido pela Força Aérea Brasileira (FAB) para salvar o máximo de vidas possível. Nos bastidores, uma rede mundial monitora qualquer sinal de que alguém precisa de ajuda. E quando são acionados, seus integrantes só têm um pensamento: a rapidez é essencial.
Origem
Os primeiros relatos de Busca e Salvamento (SAR, do inglês Search and Rescue) de pessoas em situação de perigo remontam à Idade Média, quando expedições saíam à procura de embarcações desaparecidas. Propriamente, a história do serviço SAR começou na Segunda Guerra Mundial. Na Grã-Bretanha, a Royal Air Force vinha sofrendo perdas significativas em seu efetivo ao defender o território britânico e ao realizar ataques contra a Alemanha. A preocupação era humanitária, mas também estratégica: os aviões abatidos eram repostos mais rapidamente que os pilotos, já que novos tripulantes precisavam passar por formação e treinamentos.
A partir daí, foi organizada uma rede de comunicações especial para orientar pousos forçados e saltos de paraquedas em áreas mais adequadas ao resgate. Os resultados foram positivos: o efetivo passou a contar com pilotos mais experientes e o moral da tropa foi fortalecido pelo sentimento de que as chances de sobrevivência eram boas em caso de abate.
No Brasil, o então Ministério da Aeronáutica criou, no fim de 1950, o serviço de Busca e Salvamento em cada Zona Aérea. Uma aeronave Catalina, pertencente, na época, à Base Aérea de Belém, foi colocada à disposição para missões SAR. Dois eventos foram importantes para a evolução do serviço no país: em 1947, um voo do Correio Aéreo Nacional (CAN) caiu numa área pantanosa de Porto de Moz (PA) e as experiências adquiridas pelos militares que entraram na mata para prestar socorro os levaram a perceber a necessidade de organizar e preparar melhor o trabalho; e, em 1967, cinco sobreviventes foram resgatados 11 dias após a queda do voo FAB 2068, em um C-47 encontrado próximo a Tefé (AM). Nesta ocasião, foram envolvidas 35 aeronaves da FAB e da Força Aérea Americana (USAF), 347 pessoas e mais de mil horas de voo. Um dos resgatados, ao avistar a equipe da FAB, disse a frase que se tornaria um bordão: “eu sabia que vocês viriam!”.
Ajuda satelital
Em 1979, foi assinado um memorando de intenções para se desenvolver um Sistema SAR com o auxílio de satélites. A conjunção de agências da União Soviética, Estados Unidos, Canadá e França gerou a união do Sistema Espacial de Busca de Embarcações em Situação de Emergência (do russo Comischeskaya Sistyema Poiska Avarivnich Sudov) e do Sistema de Busca e Salvamento por Rastreamento de Satélite (do inglês Search and Rescue Satellite-Aided Tracking System). O resultado da união ficou conhecido como COSPAS-SARSAT e entrou em operação em 1985 para todos os países, sem discriminação. Outras nações se associaram ao programa, contribuindo com estações terrestres de recepção, aumentando a eficiência do sistema – entre eles, o Brasil.
Em solo
Quem recebe esses sinais de alerta é o Centro Brasileiro de Controle de Missão (cuja sigla, em inglês, é BRMCC), localizado no Primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA I), em Brasília (DF). De lá, os alertas são distribuídos entre cinco Centros de Coordenação de Salvamento Aeronáutico (ARCC), localizados nos CINDACTA, ou seja: Brasília, Curitiba (PR), Manaus (AM) e dois no Recife (PE). A unidade da capital pernambucana sedia os ARCC Recife e Atlântico, este responsável pelo serviço na área oceânica sob o controle do Brasil. Os ARCC também são conhecidos como SALVAERO.
Após o acionamento de todo esse sistema é que entram em cena as missões de busca e/ou de salvamento. Quem opera nos bastidores afirma: a sensação de ajudar a salvar uma vida é o mesmo para quem atua no início ou no fim do processo. ”A satisfação é a mesma, pois, apesar de não estar na execução do resgate, o trabalho de coordenação é fundamental para que o objeto da busca seja localizado e os sobreviventes resgatados. Cada decisão errada pode utilizar recursos de maneira inadequada e comprometer uma operação de busca e salvamento”, conta o Tenente Ronan.
Esquadrão de Busca e Salvamento