Rebeldes no Congo intensificam abusos contra crianças em meio à guerra

Unicef/Jospin Benekire Uma família deslocada sentada em frente ao seu abrigo improvisado em Goma, província de Kivu do Norte, República Democrática do Congo
Não fique refém dos algorítimos, nos siga no Instagram, Telegram ou no Whatsapp e fique atualizado com as últimas notícias.

A escalada da violência na República Democrática do Congo (RDC) está tendo consequências devastadoras para a população civil, especialmente para crianças. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a violência sexual contra menores de idade atingiu níveis sem precedentes, com um aumento de cinco vezes no número de casos em apenas uma semana. Além disso, relatos indicam que crianças a partir de 12 anos estão sendo recrutadas à força por grupos armados, colocando-as diretamente no centro do conflito.

O impacto do conflito na violência contra crianças e mulheres

Unicef/Jospin Benekire Um pai leva seu filho ferido para tratamento em um hospital perto de Goma, no leste da República Democrática do Congo

A intensificação dos combates na província de Kivu do Norte, onde o grupo rebelde M23 avança sobre cidades estratégicas, tem exposto mulheres e crianças a níveis extremos de violência e abusos. De acordo com o Unicef, o número de vítimas de estupro tratadas em 42 unidades de saúde aumentou cinco vezes entre 27 de janeiro e 2 de fevereiro de 2025.

Entre as vítimas, 30% são crianças, muitas delas brutalmente violentadas enquanto procuravam comida ou tentavam fugir das zonas de conflito. A diretora-executiva do Unicef, Catherine Russell, relatou o caso de uma mãe cujas seis filhas, incluindo uma menina de 12 anos, foram sistematicamente estupradas por homens armados.

Além dos abusos físicos, as vítimas enfrentam graves dificuldades no acesso a atendimento médico. As unidades de saúde estão ficando sem os medicamentos necessários para reduzir o risco de infecção pelo HIV após as agressões, aumentando ainda mais a vulnerabilidade das mulheres e crianças afetadas pelo conflito.

A situação também é alarmante para as mulheres grávidas, que, devido à destruição da infraestrutura de saúde, não conseguem receber atendimento pré-natal adequado. O Fundo da ONU para Populações (Unfpa) estima que 220 mil gestantes em Kivu do Norte e do Sul estão sem acesso a cuidados médicos, com 12 mil delas vivendo em situação de deslocamento forçado.

O recrutamento forçado de crianças por grupos armados

Além dos abusos sexuais, crianças estão sendo recrutadas à força por grupos insurgentes. De acordo com o Unicef, mesmo antes da escalada recente da violência, já havia um aumento no aliciamento de menores para o combate. Agora, com a guerra se intensificando, esse recrutamento tornou-se ainda mais agressivo.

Os relatos indicam que crianças de até 12 anos estão sendo forçadas a se juntar às fileiras dos grupos armados, muitas vezes sendo coagidas a matar, servir como carregadores ou desempenhar outras funções militares. Esse tipo de aliciamento é considerado um crime de guerra pelas convenções internacionais, mas persiste devido à fragilidade das instituições locais e à falta de fiscalização eficaz.

O Unicef e outras organizações humanitárias têm trabalhado para identificar e resgatar crianças separadas de suas famílias, tentando evitar que sejam capturadas pelos rebeldes. Somente nas últimas duas semanas, mais de 1,1 mil crianças desacompanhadas foram registradas nas províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul, aumentando o risco de exploração e recrutamento forçado.

A urgência de uma solução política para o conflito no Congo

O ex-comandante da Missão de Paz da ONU na RDC (MONUSCO), General Otávio de Miranda Filho, destacou que a única saída para o conflito é política. Segundo ele, o M23 se tornou um movimento armado muito grande, contando com cerca de 10 mil combatentes, muitos deles supostamente ligados a forças estrangeiras.

A nomeação do General brasileiro Ulisses de Mesquita Gomes como novo comandante da Força da MONUSCO reforça o envolvimento internacional na tentativa de estabilizar o país. No entanto, especialistas alertam que qualquer esforço militar terá eficácia limitada se não houver avanços diplomáticos significativos.

A ONU e organizações internacionais pressionam por um cessar-fogo sustentável e negociações entre as partes envolvidas, mas a situação no terreno continua instável. Enquanto o M23 avança em direção à capital de Kivu do Sul, milhares de civis continuam fugindo dos combates, agravando ainda mais a crise humanitária.

A urgência de uma solução política é evidente: sem um acordo entre os envolvidos no conflito, as violações contra mulheres e crianças devem continuar crescendo, e a já frágil situação humanitária no leste do Congo pode atingir um nível catastrófico.

Com informações da ONU

Participe no dia a dia do Defesa em Foco

Dê sugestões de matérias ou nos comunique de erros: WhatsApp 21 99459-4395

Google News

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário!
Digite seu nome aqui