Programa Calha Norte: Mudança para MIDR levanta dúvidas sobre gestão e controle

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A transferência do Programa Calha Norte para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), prevista para janeiro de 2025, tem gerado apreensão entre especialistas e membros do Congresso. Com um histórico de gestão estratégica e resultados concretos sob a tutela do Ministério da Defesa, a mudança levanta dúvidas sobre a continuidade da eficiência e, principalmente, sobre a capacidade do novo ministério de evitar falhas no controle e no uso adequado dos recursos públicos.

Histórico de eficiência sob o comando do Ministério da Defesa

Criado em 1985, o Programa Calha Norte (PCN) nasceu com o objetivo de fortalecer a presença do Estado na região amazônica, garantindo infraestrutura básica para áreas remotas e estratégicas. Durante quase quatro décadas sob a gestão do Ministério da Defesa (MD), o programa alcançou resultados expressivos, beneficiando diretamente 783 municípios em dez estados brasileiros, incluindo fronteiras sensíveis e comunidades isoladas.

A atuação das Forças Armadas foi determinante para o sucesso do programa. A estrutura logística, o preparo técnico e a disciplina operacional permitiram que recursos fossem aplicados com eficiência e transparência, mesmo em áreas de difícil acesso. Obras de infraestrutura, como pontes, rodovias, escolas e unidades de saúde, foram entregues dentro dos prazos estabelecidos, com fiscalização contínua e controle rigoroso dos gastos.

Especialistas alertam que a mudança para um ministério com perfil mais político pode resultar em perda da eficiência operacional. A execução militar, por sua natureza, prioriza critérios técnicos, enquanto o risco de interferências políticas no MIDR pode afetar diretamente a alocação dos recursos e a continuidade dos projetos em andamento.

Riscos de fragilidade no controle e aumento da corrupção

Relatórios recentes da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU) já apontaram fragilidades no controle de recursos destinados ao Programa Calha Norte, principalmente quando vinculados a emendas parlamentares. Sob a nova gestão, há temores de que esses problemas se agravem, especialmente devido à falta de estrutura técnica do MIDR para lidar com a complexidade logística e fiscalizatória do programa.

O risco de clientelismo político é uma das principais preocupações. Parlamentares influentes poderão direcionar recursos de forma desproporcional para seus redutos eleitorais, em detrimento de critérios técnicos e das reais necessidades das comunidades atendidas. Além disso, processos de sobrepreço e superfaturamento de obras podem se tornar frequentes com a perda do controle rígido que o Ministério da Defesa historicamente exerceu.

Outro desafio será garantir a continuidade das fiscalizações em áreas de difícil acesso, onde apenas a presença militar consegue assegurar a correta aplicação dos recursos. Sem essa presença constante, especialistas temem que a transparência do programa fique comprometida.

Desafios para o futuro do Programa Calha Norte

Com a transferência iminente, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR) enfrentará desafios significativos para assegurar que o Programa Calha Norte mantenha sua eficácia. Entre os principais obstáculos estão:

  • Capacitação técnica: O MIDR precisará formar equipes especializadas, familiarizadas com as demandas logísticas e operacionais da Amazônia Legal.
  • Transição ordenada: A mudança de ministério exigirá um processo de transição detalhado e minucioso, com acompanhamento rigoroso para evitar perdas ou atrasos nos projetos em andamento.
  • Fiscalização permanente: Órgãos de controle, como CGU e TCU, precisarão redobrar esforços para monitorar a aplicação dos recursos, garantindo que não haja desperdício ou desvios.
  • Evitar ingerência política: A administração do programa deve manter critérios técnicos para alocação de verbas, evitando favorecimentos políticos que possam comprometer a eficiência do programa.

O Calha Norte é mais do que um programa de infraestrutura; é uma ferramenta estratégica para garantir presença do Estado em áreas sensíveis do território nacional. A forma como o MIDR conduzirá essa nova responsabilidade será decisiva para o futuro de milhões de brasileiros que dependem diretamente das ações do programa.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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