No ano em que se comemora o 40º aniversário do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), a Marinha do Brasil (MB) retomou os projetos de pesquisa na Antártica, após um ano de interrupção devido à pandemia da Covid-19. O Programa é uma importante iniciativa voltada para o desenvolvimento de estudos científicos nacionais realizados no continente gelado e foi criado no ano de 1982, em conformidade com os compromissos internacionais assumidos na adesão ao Tratado Antártico, um acordo de cooperação entre países interessados na região.

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De acordo com o Secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, Contra-Almirante Marco Antônio Linhares Soares, a Antártica é um laboratório à disposição da pesquisa em colaboração com os demais países que aderiram a essa missão. “Assinamos o Tratado para fazer muita pesquisa de qualidade e isso já vem sendo feito ao longo desses 40 anos com a participação de inúmeras instituições de pesquisas e universidades”.

A presença no continente branco é estratégica por motivos geopolíticos, científicos e ambientais. Cerca de 20 pesquisas estão sendo realizadas atualmente nas áreas de ciências da vida, ciências atmosféricas, ciências do mar e ciências da terra.

Um exemplo de avanço nas pesquisas foi a evolução da carta náutica utilizada no próprio trajeto até a Antártica, dando mais segurança aos navios, suas tripulações e aos cientistas que embarcam nos navios. “Nós tivemos um ganho muito grande com a previsão numérica que utilizamos na travessia do Drake, que é um estreito de mar muito difícil para a navegação. Poucas áreas da região eram cartografadas, mas foram feitas inúmeras cartas náuticas utilizando os equipamentos em ambientes diferentes e com isso houve um ganho muito grande”, disse o Contra-Almirante Linhares.

Assista ao vídeo de divulgação dos 40 anos do PROANTAR

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O primeiro coordenador científico da Operação Antártica (OPERANTAR), Paulo Eduardo Aguiar Saraiva Câmara, que é biólogo e professor do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília, afirma que o Brasil tem um comprometimento sério e definitivo com a região da Antártica. “O continente gelado soma 14 milhões de km2 e as maiores reservas de água doce do mundo. Cerca de 70% estão na Antártica e não na Amazônia, como muitos podem pensar. As maiores reservas de petróleo, de ouro, de diamante também estão lá. O Brasil fala de igual pra igual com as grandes nações do mundo, podemos opinar sobre o uso dessas riquezas, temos o direito a voz e voto. E por que temos isso? Porque fazemos pesquisa. Não adianta o Brasil ir para Antártica sem fazer pesquisa e não adianta a gente querer fazer pesquisa sem o apoio logístico da Marinha”, afirmou o professor Paulo.

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Pesquisadores transportados por militares da Marinha na Antártica

Para realizar as operações antárticas, a Marinha coordena um planejamento minucioso, sendo responsável pelo transporte, alimentação, alojamentos, vestimentas especiais e manutenção de equipes na base científica. A OPERANTAR XL teve início no dia 6 de outubro de 2021, com o suspender do Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) “Ary Rongel” e, posteriormente, com o Navio Polar (NPo) “Almirante Maximiano”, que iniciou a sua comissão em 14 de novembro de 2021. O término da operação está previsto para 13 de abril de 2022, com o retorno dos navios para o Rio de Janeiro.

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Ampliação de pesquisas
Uma novidade na área de pesquisas para este ano é a destinação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para o PROANTAR e para a base de pesquisa Criosfera 2, que são prioridades do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O anúncio foi feito na abertura do “III Simpósio do Programa Ciência Antártica MCTI: 40 anos de pesquisa científica do PROANTAR”, realizado neste mês.

Durante o evento, o Ministro do MCTI, Marcos Pontes, declarou que os 40 anos do PROANTAR são um marco a ser comemorado pelo Brasil e pelo planeta. “Temos de ampliar cada vez mais a pesquisa no continente Antártico”. Segundo ele, a prioridade do MCTI é aumentar a pesquisa e a capacidade dos laboratórios na Antártica, com o Criosfera 2, além de ampliar o número de bolsas de pesquisa disponíveis. A liberação de recursos para a ciência pelo FNDCT deve garantir apoio financeiro para a continuidade dos projetos de pesquisa do PROANTAR para os próximos três anos.

Além do MCTI e da Marinha do Brasil, o programa conta, também, com outros membros na Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, entre eles os Ministérios das Relações Exteriores; do Meio Ambiente; da Justiça e Segurança Pública; Defesa; Economia; Infraestrutura; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Educação; Cidadania; Saúde; Minas e Energia; Turismo; Desenvolvimento Regional e Casa Civil. Além desses órgãos, são parceiros do PROANTAR a Força Aérea Brasileira, a Petrobras, a Universidade Federal do Rio Grande, a empresa OI e a Fundação Oswaldo Cruz.

Novo Navio de Apoio Antártico e Aeronaves UH-17
Em outubro de 2021, o Estaleiro Jurong Aracruz/SEMBCORP foi anunciado como a melhor oferta para construir o novo Navio de Apoio Antártico (NApAnt). A construção do navio, que será conduzida pela Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON), proporcionará incentivo ao desenvolvimento tecnológico e à indústria naval brasileira.

Atualmente, o “Ary Rongel” e o “Almirante Maximiano” contribuem para a pesquisa, transportando pessoal e equipamentos, produzindo cartas náuticas e coletando amostras científicas. O NApAnt potencializará a pesquisa científica e fortalecerá a presença estratégica do Brasil no continente gelado.

Para somar esforços junto aos navios, o 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral realizou o primeiro voo na Antártica, em novembro de 2021, com as recém-adquiridas aeronaves UH-17. Os “Águias” 7090 e 7091, orgânicos do NPo “Almirante Maximiano”, foram lançados para permitir a ambientação dos tripulantes nos voos em regiões de clima frio, realizar reconhecimento dos pontos de interesse nas proximidades da Estação Antártica Comandante Ferraz, e qualificação e requalificação de pouso a bordo com o NApOc “Ary Rongel”.

As duas aeronaves são as primeiras de um total de três UH-17, adquiridas junto à Airbus Helicopters, com o objetivo de cooperar e ampliar a capacidade das operações aéreas no PROANTAR.

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Aeronave UH-17 amplia a capacidade das operações na Antártica

Estação Antártica Comandante Ferraz
A estrutura da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) foi reinaugurada em 15 de janeiro de 2020 e possui um complexo de mais de 4,5 mil m². Aproximadamente 4 mil integrantes de equipes científicas já passaram pelo PROANTAR.

A estrutura do Brasil está localizada na Península Keller, na Ilha Rei George, no arquipélago das Shetland do Sul. Com um projeto arquitetônico moderno e 17 laboratórios, a EACF está dividida em seis setores e tem um funcionamento sustentável, com o reaproveitamento de água e utilização de energias renováveis. Atualmente, a estação brasileira é considerada umas das mais seguras e modernas da região e, mesmo com a pandemia da Covid-19, a EACF nunca parou. O grupo-base formado por militares da Marinha mantém a Estação funcionado todo o tempo.

Um bom exemplo de experiência é a do Capitão de Corveta (Md) Jarbas de Souza Salmont Júnior, que já participou três vezes da OPERANTAR e realiza atendimentos na área de saúde. “A parceria da Marinha com os pesquisadores é extremamente proveitosa e amigável. Todos os tripulantes da Estação Antártica e das estações vizinhas têm acesso ao atendimento médico na nossa estação. O atendimento é sob livre demanda e nós temos uma enfermaria bem equipada e preparada para estabilizarmos um paciente grave até sua remoção”, exemplificou.

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Marcelo Barros, com informações da Marinha do Brasil
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).