Fossa de Porto Rico, um dos lugares mais profundos do planeta, atingindo mais de 8 km de profundidade (Imagem: Reprodução/United States Geological Survey)

Por Wyllian Torres

Talvez você já tenha ouvido a expressão muito recorrente de que “conhecemos mais o espaço do que os oceanos da Terra” — o que é verdade. Estima-se que, hoje, mais de 80% dos oceanos ainda permanecem inexplorados. Em parte porque é uma área muito extensa — aproximadamente 71% da superfície da Terra é coberta por água e desse tanto, cerca de 97% é água salgada —, mas também porque ainda não desenvolvemos tecnologias verdadeiramente capazes de enfrentar altas pressões a mais de 11 quilômetros de profundidade. Mas, desse pouco explorado, o que se conhece do fundo do mar?

Nos últimos anos, temos descoberto incríveis espécies de vida marinha nos lugares mais remotos do oceano. Além disso, o fundo do mar contém uma grande variedade de formas de vida microbiana. Atualmente também sabemos que os oceanos são os responsáveis por absorver cerca de 90% do calor que o nosso planeta retém do Sol. Eles possuem dinâmicas de correntes responsáveis não apenas pela distribuição das correntes frias e quentes pelo mundo — dinâmica esta que afeta diretamente o clima global.

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O que sabemos sobre o fundo do mar

Correntes oceânicas

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Principais correntes oceânicas (Imagem: Reprodução/NASA)

Se, aqui na superfície o deslocamento de massas de ar dá origem ao vento, as correntes marinhas são o constante movimento da água do oceano. Elas possuem uma complexa dinâmica e possuem nome, trajeto, temperatura e até mesmo níveis de salinidade. Durante o percurso, transportam calor e espalham sedimentos pelas águas. Graças a essa dinâmica, os mares de todo o mundo se conectam e formam um oceano global.

As águas se movimentam, predominantemente, em duas direções. Na horizontal, são as correntes marítimas; na vertical, são os chamados afloramentos, quando o fluxo desce para maiores profundidades ou sobe para a superfície. Este movimento ascendente tem ligação com as chamadas regiões de ressurgência, normalmente localizadas em regiões costeiras e ricas em vida marinha — por conta dos nutrientes que essa corrente traz do fundo do mar. O fluxo descendente é mais comum nas regiões polares do planeta, formando as correntes profundas.

O Brasil, por exemplo, possui algumas correntes, como a Corrente do Brasil, que flui para o sul até a costa do Uruguai, e a Corrente Norte Brasil, que vai para o norte até encontrar o mar do Caribe. No filme Procurando Nemo (2003), aparece um grupo de tartarugas pegando carona com uma correnteza — e isto não é mera invenção cinematográfica. É a chamada Corrente Leste Australiano, com início na costa nordeste da Austrália e se estende até a Grande Barreiras de Corais.

O relevo do fundo do mar

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Chaminé de sulfeto no fundo do mar (Imagem: Reprodução/NSF/NOAA)

Assim como a parte terrestre do nosso planeta possui uma grande complexidade e dinâmica geológicas, o fundo do mar também possui ilhas, vulcões extintos e ativos, cadeias de montanhas, fossas oceânicas e planícies abissais. Ao considerarmos todo o relevo do fundo do mar, estima-se uma profundidade média de 3,8 km —, embora o lugar mais profundo do mundo atinja mais de 11 km, na Fossa das Marianas, no Pacífico.

O mar profundo apresenta o maior bioma do nosso planeta; no entanto, é o menos explorado. Regiões com mais de 200 metros de profundidade abrangem cerca de 95% do volume total do oceano. Contudo, a maior parte da vida marinha se faz presente em ecossistemas costeiros, como os recifes. Infelizmente, cada vez mais a ação humana impacta direta ou indiretamente esses sistemas de vida, sendo que o aquecimento global é responsável pela morte em massa de corais pelo mundo.

O fundo do mar também guarda regiões repletas de fontes hidrotermais, formadas quando a água do mar encontra o magma através de fissuras e a, ao ser aquecida, são liberadas para cima e trazem substâncias como sulfeto de hidrogênio. Para bactérias quimiossintéticas, este é um verdadeiro oásis com fonte de energia — substituindo a luz do Sol. E estes microrganismos são apenas a base desse ecossistema de espécies únicas como caranguejos, anêmonas, camarões e vermes gigantes. São formas de vida que não dependem da energia solar.

Trincheira do Oceano Atlântico

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Fossa de Porto Rico, um dos lugares mais profundos do planeta, atingindo mais de 8 km de profundidade (Imagem: Reprodução/United States Geological Survey)

É uma das religiões mais profundas do de todo o planeta, chegando a mais de 8 km de profundidade e com uma extensão de 800 km. Para comparação, o Monte Everest tem pouco mais de 8 km de altitude — e é o ponto mais alto da superfície terrestre. A Trincheira do Oceano Atlântico é o lugar mais profundo do oceano Atlântico.

Há pouco tempo, pensava-se ser uma região estéril, entretanto, recentemente biólogos marinhos têm descoberto cada vez mais um rico ecossistema, com diversas espécies de tubarões, como o Tubarão-tigre e o Tubarão-fantasma — este raro de ser avistado. São formas de vida incrivelmente bem adaptadas para viverem em condição de extrema escuridão, baixa temperatura e uma grande pressão. Espécies que vivem da chamada Zona Nerítica — a uma profundidade maior que 200 metros — são adaptadas para viverem com pouquíssima luz ou quase nada. Daí para baixo, a maior parte das espécies são bioluminescentes, ou seja, emitem luz com o próprio corpo.

Alguns especialistas consideram essa exploração mais interessante do que a espacial. De certa forma, não deixa de ser um outro mundo — totalmente submerso. Conforme novas ferramentas tecnológicas são criadas, nossa capacidade de exploração também se amplia.

A água salgada dos mares

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Piscina de salmora localizada no fundo do mar do Golfo do México. É uma solução de água saturada de sal, geralmente de cloreto de sódio ou outros sais (Imagem: Reprodução/NOAA)

Estima-se que, em todo o oceano, existam 5,5 trilhões de toneladas de sal. É tanto sal que, se toda essa água secasse, formaria uma camada espessa de 45 metros de altura só de sal. Sua composição é um pouco diferente do sal que usamos para cozinhar, no entanto: cerca de 85% é composto por cloreto de sódio — o sal de cozinha —, enquanto 14% é feito de outros sais, como sulfato, magnésio, cálcio, potássio e bicarbonato; e 1% de uma infinidade de outros elementos. O oceano é uma verdadeira “sopa” com todos os elementos que estão na crosta terrestre e na atmosfera.

Toda essa quantidade de sal é o resultado de processos de erosão e dissolução das rochas terrestres ao longo de milhões de anos, transportado dos rios para o oceano. As reações químicas que ocorrem no fundo dos mares e as atividades vulcânicas também contribuem para essa soma. Até mesmo meteoros, mesmo que em uma quantidade bem pequena, também contribuem para a chegada de mais sais no mar.

E por que será que o mar não fica saturado de sal? Essa quantidade toda é balanceada através da perda desses elementos em sedimentos que decantam para o fundo do mar ou até mesmo na formação de esqueletos e carapaças de vidas marinhas — “nada se cria, tudo se transforma”.

Preservar para conhecer, e o contrário

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Tubarão-martelo, na Costa Rica (Imagem: Reprodução/Mission Blue)

Atualmente, nossa espécie tem ameaçado a vida marinha. Seja pela grande quantidade de lixo que produzimos e lançamos ao mar, ou, de maneira indireta, através do aquecimento global — hoje sabemos a ligação direta com o aumento do nível de CO2 na atmosfera — dizimando grandes recifes de corais pelo mundo.

Se, do pouco que exploramos o oceano, descobrimos uma grande diversidade de vida marinha e toda a complexa dinâmica das correntes de água pelo mundo, precisamos preservar este mundo aquático, antes que levemos à extinção espécies das quais nunca saberemos ter existido nessa vastidão de oceano. E que busquemos mais conhecimento sobre o fundo do mar para entender, de fato, a importância de sua preservação.

Fonte: Canal Tech, Oceano Para Leigos e FAPESP