Esqueça as guerras de trincheiras — conhecida estratégia militar usada na Primeira Guerra Mundial — ou as bombas nucleares — como as que atingiram as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, no final da Segunda Guerra —, as guerras atuais são muito mais sofisticadas, podendo até passar despercebidas. É o caso do bioterrorismo, também é conhecido como guerra bacteriológica.

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O bioterrorismo pode ser definido da seguinte maneira: liberação intencional ou ameaça de liberação de agentes biológicos — como vírus, bactérias, fungos ou outras toxinas —, desencadeando doenças e mortes em uma população saudável, animais ou plantações. Por mais mortes que cause, o objetivo do bioterrorista é promover seus objetivos sociais e políticos, causando a sensação de que o governo ou poder local não pode proteger seus cidadãos.

Para entender um caso clássico de bioterrorismo na ficção, baste lembrar o enrendo do filme Inferno — baseado no livro de Dan Brown. Na história, o professor de simbologia Robert Langdon (Tom Hanks) precisa proteger o mundo de um bilionário que acredita que o planeta Terra está muito povoado. Para diminuir a população global, o empresário desenvolveu uma super praga, mas os planos foram impedidos, com o apoio da Organização mundial de Saúde (OMS).

Para conter eventuais ataques bioterroristas, os países precisam manter “um sistema de saúde pública com forte vigilância de doenças, capacidade de investigação epidemiológica e laboratorial rápida, gerenciamento médico eficiente”, apontam os autores indianos de um artigo sobre o tópico, publicado na revista científica Medical Journal Armed Forces India (MJAFI). Além disso, é preciso que haja uma boa comunicação com a população local e a disponibilização de informações seguras.

Quais são as armas biológicas mais usadas?

Para desenvolver uma arma biológica, agentes biológicos encontrados na natureza podem ser modificados por um grupo terrorista e se tornarem ainda mais perigosos. De modo geral, a ideia é que esses agentes possam ser transmitidos de pessoa para pessoa, e a infecção deve levar horas ou dias para se tornar aparente, o que permitiria um número maior de infectados.

Vale lembrar que, segundo os autores do estudo, “os ataques bioterroristas podem ser causados ​​por qualquer microorganismo patogênico. No entanto, os microrganismos (como vírus, bactérias, fungos ou toxinas), para serem eficazes como agentes bioterroristas, devem produzir consistentemente um determinado efeito, morte ou doença, em baixas concentrações”.

Além disso, “o agente deve ser altamente contagioso, ter um período de incubação curto e previsível. A população-alvo deve ter pouca ou nenhuma imunidade contra o organismo. O agente deve ser passível de produção em massa, difícil de identificar na população-alvo e pouca ou nenhuma profilaxia ou tratamento deve estar disponível na população nativa”, apontam.

De acordo com o estudo indiano, os agentes bioterroristas mais usados são:

  • Bacillus anthracis, a bactéria responsável por causar a doença Antraz;
  • Clostridium botulinum, a bactéria que desencadeia o botulismo;
  • Yersinia pestis, a bactéria responsável pela peste;
  • Varíola maior, o vírus que causa a varíola;
  • Francisella tularensis, a bactéria que causa a tularemia ou “febre do coelho”;
  • Arenavírus ou filovírus, alguns tipos de vírus que causam febres hemorrágicas.

Além destes, existem outros inúmeros alimentos ou agentes que poderiam ser usados ​​em um ataque bioterrorista, incluindo armas biológicas sintéticas.

Histórico das guerras biológicas

Na história, o uso de armas biológicas é relatado, pelo menos, desde o século VI aC. Nesse período, os assírios contaminaram o sistema de abastecimento de inimigos, que seriam conquistados posteriormente, com o fungo Claviceps purpurea (esporão-do-centeio).

Em 1346, o exército tártaro lançou cadáveres de vítimas da peste sobre os muros de uma cidade para contaminar outra população com a doença. Já em 1767, os britânicos desencadearam surtos de varíola através da doação de cobertores contaminados, entregues para os nativos norte-americanos.

Depois da guerra contra os nativos, outro ataque biológico marcou a história dos Estados Unidos, nos anos 1980. O acontecimento entrou para a história como o Ataque bioterrorista de Rajneeshee de 1984, onde membros de um culto religioso, em Oregon, contaminaram restaurantes com a bactéria da Salmonella, procurando impedir que a população local votasse nas eleições.

“Em setembro de 2001, o público americano foi exposto aos esporos do Antraz como uma arma biológica entregue pelo sistema postal dos Estados Unidos. O centro de controle e prevenção de doenças (CDC) identificou 22 casos confirmados ou suspeitos de Antraz durante este ataque”, alertam os pesquisadores indianos sobre o histórico dos ataques bioterroristas. Neste último caso, cinco óbitos foram confirmados.

Epidemias são causadas por armas biológicas?

Esta é uma questão polêmica, porque cada caso precisa ser estudado de forma individual. No entanto, não há consenso de que nenhuma epidemia ou pandemia tenha surgido a partir da criação de um vírus em laboratório e que este teria sido espalhado, de forma proposital. Isso porque seria quase impossível controlar um desses agentes após a criação, colocando em risco os próprios terroristas.

Por exemplo, epidemias de peste na Índia e os casos de ebola na África Central levantaram essa possibilidade de armas biológicas. “Durante as investigações da peste e do ebola, foram levantadas preocupações sobre a possibilidade de bioterrorismo, embora não sejam apoiadas por descobertas subsequentes”, explicam os autores do artigo.

Quem chegou até aqui — e é fã de teorias da conspiração —, poderia pensar que o coronavírus SARS-CoV-2 seria também uma arma biológica, mas essa “teoria” está longe de qualquer confirmação. Não há provas desse uso proposital do vírus da covid-19, que matou milhões de pessoas em todo o mundo.

O consenso é de que o agente infeccioso da covid-19 tenha uma origem natural e nasceu como uma zoonose. Isso significa que o vírus foi transmitido de um animal silvestre — muito provavelmente, um morcego — para um hospedeiro intermediário — talvez, o pangolim. Do pangolim, o agente infeccioso pode infectar os seres humanos e se espalhar pelo mundo.

Para acessar o estudo completo sobre o bioterrorismo, clique aqui.

Fonte: CDCMedicineNet e Canal Tech