O Novo Cangaço causa preocupação em cidades sem estrutura de segurança

Essa semana ocorreram 2 assaltos bancários que merecem uma análise mais profunda. O primeiro assalto ocorreu em Cricíuma, em Santa Catarina. A cidade foi sitiada por uma quadrilha durante a madrugada em um assalto, onde o pânico tomou conta da cidade devido a violência empregada. O outro assalto ocorreu na cidade de Cametá, no Pará. Repetindo a violência empregada, ocorreu pânico nas ruas, reféns, muitos tiros e explosões.

Essa série de assaltos, levantou um debate sobre o conceito de “novo cangaço” na internet. Uma expressão que remonta ao sertão nordestino entre os séculos XVIII e XX em que ações de bandos itinerantes roubavam instituições financeiras e atacavam quartéis policiais de cidades pequenas e médias.

O termo “novo cangaço” surgiu no final da década de 1990 e se consolidou no anos 2000 com os ataques promovidos por grupos criminosos que invadiam municípios no Nordeste para assaltar bancos e carro-fortes, muitas vezes tomando conta do local. O modus operandi foi logo associado ao dos cangaceiros que aterrorizavam a região com saques e brutalidades.

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Para a socióloga Jânia Aquino, pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), o paralelo faz sentido até certo ponto, já que está atrelado a ações truculentas e ao enfrentamento de grupos armados em uma localidade alvo. Por outro lado, o termo não abarca o nível de sofisticação dessas novas quadrilhas.

“A expressão ‘novo cangaço’ remete a uma dimensão de atraso, de um tipo de crime anacrônico, mas, quando a gente vai observar essas quadrilhas e o modus operandis, a gente vê um planejamento minucioso, investimento em armas pesadas e veículos potentes, além de serem grupos interestaduais. Há características de crime urbano. Embora o termo tenha sido cunhado para essa postura de afronta, como se fosse uma violência impulsiva, ela é altamente instrumental”, afirma Aquino.

Modo de agir dos criminosos

De acordo com o antropólogo e analista de segurança pública Paulo Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), o fato de essas quadrilhas serem grupos itinerantes que miram cidades que não estão preparadas para lidar contra esse tipo de ação dificulta tanto a prevenção como a capacidade de resposta.

“Como não têm vínculos com o local, dificilmente vão estabelecer uma relação com algum nativo, com um morador da cidade ou vão alugar um espaço. Há uma avaliação preliminar, que deve durar uns três dias, até desencadearem o fato. Depois de feito, eles fogem, o que torna mais difícil localizá-los, a não ser em um encontro fortuito, de uma patrulha que persegue, de alguém que identifica e presta informação à polícia”, disse.

“Esse tipo de crime acontece de forma pontual. Às vezes segue uma rota; às vezes, não. O crimininoso tem o privilégio estratégico de escolher onde, como e quando será. E vai se adaptar ao que encontrar em termos de resistência. Se você não tiver uma boa capacidade de resposta, ou seja, vir uma denúncia imediatamente, desencadear uma operação de cerco, por exemplo, juntamente com policiamento de outras cidades, é muito mais difícil de prender esses criminosos”, afirmou.

Difícil solução

 

Em coletiva nesta terça, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, classificou a ação como “bem-sucedida” e disse que não havia qualquer informação prévia sobre o assalto. O prefeito de Criciúma chamou o ocorrido de “surreal”.

 

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).