A corveta CAMAQUÃ terminava mais uma missão de escolta de comboios, a sua quadragésima. Eram aproximadamente 09:00 horas da manhã do dia 21 de Julho de 1944 quando foi rendida na escolta.

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Esta embarcação, que muitos serviços havia prestado ao nosso país tendo participado no comboio cerca de 600 navios sem nenhuma perda, fora construída no Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro originalmente como o navio mineiro Camaquã. Teve sua quilha batida a 2 de Outubro de 1938, sendo lançada ao mar em 16 de Setembro do ano seguinte. Sua incorporação à esquadra foi em 7 de Junho de 1940. Em 1942 passa a integrar a Força Naval do Nordeste.

Neste mesmo ano passa por diversas modificações no Rio de Janeiro e retorna, já acompanhando um comboio, para o porto do Recife. Realiza então diversas missões de comboio e patrulha anti-submarino na Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Fernando de Noronha.

Retorna ao Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro no início de 1943 para receber reparos e nele ser instalado um equipamento de Sonar. No dia 6 de Março parte, em escolta, para o porto de Salvador. Sua nova área de atuação seria a área dos estados da Bahia e Pernambuco.

Com o aumento das atividades dos submarinos alemães no início de julho de 1943, foram iniciados os comboios Rio de Janeiro – Trinidad e Trinidad – Rio de Janeiro. As embarcações eram escoltadas no trecho Recife – Trinidad (ida e volta) pela esquadra americana e do Recife ao Rio pela Força Naval do Nordeste, da qual fazia parte a Camaquã. Ela participou no período de um ano, entre Julho de 1943 e Julho de 1944, de 26 missões de escolta. E foi também neste período, mais precisamente em 11 de Janeiro de 1944 que ele, juntamente com outros 5 navios-mineiros, tiveram sua classificação alterada para a de Corveta (CV)

Ao findar sua última missão demandava para o porto do Recife, tendo como comandante o Capitão de Corveta Gastão Monteiro Moutinho, acompanhada de outras  embarcações que também fizeram parte do comboio.

As condições de mar e vento eram satisfatórias e à bordo estavam sendo realizadas operações de limpeza e arrumação, preparando-se os homens para a chegada ao porto. Tanto eram as condições satisfatórias que o comandante da Camaquã, que era também o comandante da escolta, liberou as outras embarcações para que rumassem para o porto sem a necessidade de andarem em formação.

Por volta das 09:40 uma série de três grandes vagalhões passam pelo navio. O primeiro aderna fortemente a corveta, mas não causa maiores problemas. O segundo chega a adernar a corveta de tal maneira que deixou emersa a tomada de água para a refrigeração do condensador, que ficava a bombordo e bem abaixo da linha d´água.

Neste momento a tripulação reduziu a velocidade e tentou aproar a embarcação, guinando-a para bombordo. A tentativa nem chegou a ser concluída, pois o terceiro vagalhão atinge a corveta de través e, em poucos segundos, a tomba completamente.

Com a embarcação em movimento, uma grande massa de água lavou o convés, arrastando consigo diversos tripulantes. Todos tentavam abandonar a embarcação que naufragava rapidamente. Diversos homens lutavam contra a água que penetrava na embarcação, tentando subir escadas, sair por vigias ou por outra abertura que os livrasse do arrasto da embarcação.

O comandante ficou preso no passadiço e afunda com a embarcação, morrem também os homens que estava às caldeiras, pois mantinham durante a navegação duas portas estanques fechadas.

Todos os que conseguem se safar tentam nadar para o mais longe possível, isto devido ao medo de que as caldeiras ou as cargas de profundidade utilizadas no combate a submarinos explodissem, além do risco de serem tragados para o fundo pelo arrasto criado pela corveta que afundava. Nenhuma explosão aconteceu.

Toda a tragédia durou poucos minutos, em cinco minutos o navio virara completamente, e manteve-se flutuando nesta posição por mais 15 minutos, sustentado pelos poucos bolsões de ar que nele restavam. Passados estes minutos afundou de popa para proa.

Poucos foram os salva-vidas que flutuaram, apenas os das cobertas superiores e eram insuficientes para todos. A tripulação normal da corveta era de 80 homens mas, nesta viagem transportava cerca de 40 oficiais e praças em trânsito.

O escaler da embarcação flutuou mas, mesmo com toda a recomendação feita, acabou afundando pelo excesso de peso e pela forma com que os homens procuravam embarcar.

O cansaço tomou conta de diversos tripulantes, fazendo com que morressem afogados. A tragédia ainda não foi maior pois as embarcações CS Graúna e CS Jutaí, que também faziam parte da escolta, rapidamente acorreram ao local, lançando mais salva-vidas e bóias e recolhendo  os náufragos.

Das 120 pessoas à bordo pereceram 33 militares (2 oficiais, 7 sargentos, 2 cabos, 19 marinheiros e 3 taifeiros) a este número deve ser acrescentado o de 2 civis que foram encontrados navegando como clandestinos numa das embarcações comboiadas e que haviam sido transferidos, juntamente com um terceiro civil que se salvou, à bordo da corveta para serem levados ao porto de Recife.

Passaram-se muitos anos até a localização dos restos desta embarcação naufragada.

Como muitos dos naufrágios localizados por mergulhadores, a Camaquã foi localizada por um grupo de mergulhadores pernambucanos por meio de relatos de pescadores.

Ela se encontra a uma profundidade média de 56 metros, o que a coloca dentro de um tipo de mergulho especializado mas num local muito rico de vida marinha, o que permite aos mergulhadores visitantes um momento quase que único no mergulho em naufrágios.

Autor: Marcello De Ferrari

Fonte: Naufrágios

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).