Por General de Brigada Carlos Augusto Ramires Teixeira – O Estado-Maior do Exército aprovou, em 4 de dezembro de 2020, a Diretriz para o Sistema Cultural do Exército (SisCEx). Como integrante do Sistema Nacional de Cultura (SNC), o SisCEx tem ligações técnicas e de cooperação, visando, entre outras metas, a integração do Exército à sociedade em geral, por meio da difusão da cultura castrense.

Nesse contexto, como missão síntese, cabe à Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército preservar e divulgar o patrimônio histórico e cultural do Exército, material e imaterial.

Este pequeno artigo de opinião surgiu após o início da análise da nova portaria e pretendeu reunir ideias pessoais e profissionais sobre a formação do ethos militar e a percepção do brasileiro quanto aos militares do seu Exército.

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Recentemente, a sociedade brasileira vem recebendo uma série de informações que tratam do emprego das Forças Armadas, sobretudo do Exército Brasileiro, e da interpretação do artigo 142 da Constituição Federal.

Passados 32 anos da promulgação de nossa Carta Magna e contabilizadas centenas de operações militares no âmbito interno da Nação, é surpreendente que essas questões venham à tona de maneira tão intensa. Mais ainda, quando se percebe a inexistência de um consenso, nas mais diferentes esferas do poder nacional, sobre suas atribuições, competência, subordinação e postura frente a questões de cunho político.

Entendendo que o desconhecimento institucional do Exército por parte da sociedade é parcela do motivo de todas essas questões, pretendo analisar como pensam e atuam os membros da instituição mais respeitada do País, por meio de suas crenças e de seus valores, concluindo que o Estado brasileiro pode confiar nos seus integrantes e valer-se deles para o desenvolvimento nacional. Não tenho, evidentemente, a mínima pretensão de esgotar o assunto, mas, sobretudo, de estimular a revisão acadêmica sobre o tema.

“Senhor, umas casas existem, no vosso reino onde homens vivem em comum, comendo do mesmo alimento, dormindo em leitos iguais. De manhã, a um toque de corneta, se levantam para obedecer. De noite, a outro toque de corneta, se deitam obedecendo. Da vontade, fizeram renúncia como da vida. Seu nome é sacrifício. Por ofício desprezam a morte… A beleza de suas ações é tão grande que os poetas não se cansam de celebrar. Quando eles passam juntos, fazendo barulho, os corações mais cansados sentem estremecer alguma coisa dentro de si. A gente conhece-os por militares… Corações mesquinhos lançam-lhes no rosto o pão que comem; como se os cobres do pré pudessem pagar a liberdade e a vida… Se a força das coisas os impede agora de fazer em rigor tudo isto, algum dia o fizeram, algum dia o farão. E, desde hoje, é como se o fizessem. Porque, por definição, o homem da guerra é nobre. E quando ele se põe em marcha, à sua esquerda vai a coragem, e à sua direita a disciplina”.

Essa parcela da carta de Dom Moniz Barreto, escrita ao Rei Carlos I, de Portugal, em 1893, destaca características comuns aos homens da caserna, forjados pelo tempo e pelos ideais que ainda hoje são intrínsecos a muitos exércitos ocidentais.

Já no recrutamento e na formação dos soldados romanos, havia um equilíbrio entre os valores morais (virtus) e a disciplina. Esses dois aspectos, por sua vez, tinham forte embasamento na ética estoica dos gregos, fortalecida mais tarde pelo imperador e filósofo romano Marco Aurélio.

No primeiro milênio da era cristã, destaca-se a influência de São Tomás de Aquino, com suas reflexões sobre a verdade que vão ser incorporadas na virtus dos exércitos ocidentais. O Iluminismo, por sua vez, influenciou a ciência militar com o “método” de Descartes, formatando, ainda mais, a estrutura do planejamento militar e sua lógica objetiva. Por fim, no século XIX, o Positivismo induziu à absorção do altruísmo, dos sentimentos republicanos, da ordem e do progresso.

O Estoicismo foi uma filosofia originada na Grécia Antiga, no séc. IV a.C., e teve Zenão, Seneca, Crisipo, Epicteto e o imperador romano Marco Aurélio como seus maiores representantes. A base filosófica dessa corrente assentava na crença da sobreposição da razão sobre a emoção e na visão de que o mundo segue uma ordem perfeita, lógica e ética.

Dessa filosofia, deriva boa parte dos valores e das crenças do militar:

a coragem e a consciência do comprometimento da própria vida;

a sujeição à rígida disciplina e à hierarquia;

a disponibilidade permanente;

a rigidez dos treinamentos;

o fiel cumprimento do dever; e

a busca pela justiça.

O Racionalismo Clássico e o Iluminismo, como correntes de pensamento dos séculos XVII e XVIII, também se expressaram como solução às questões sociais e foram avessos ao Absolutismo e aos privilégios dados à nobreza. Seus principais representantes foram John Locke, Voltaire, Descartes, Hegel, Pascal, Rousseau, Montesquieu e Diderot. Como reflexos na formação e evolução castrense, destacam-se:

a busca da objetividade e

o planejamento metodológico;

O Positivismo surgiu na França, no início do século XIX, e tem em Augusto Comte seu maior representante. A filosofia positivista atuou fortemente na área científica e na compreensão da ética humana, por meio de uma visão concreta (positiva) dos fenômenos observáveis. No Brasil, a corrente influenciou a oficialidade jovem e trouxe significativas reflexões sobre o equilíbrio “operacionalidade x cientificidade” do Exército ao início da República, exigindo ponderações posteriores. Por fim, foram absorvidas as ideias de:

verdade científica;

altruísmo; e

ordem por base e progresso, por fim.

Da integração dessas diversas influências, identifica-se muito claramente o porquê de o Exército Brasileiro ter-se mantido incólume neste período tão importante para a consolidação das instituições nacionais democráticas.

O Sistema de Ensino do Exército e seu Sistema de Instrução Militar, juntos, desempenham papel fundamental como base sólida em que se apoia a identificação do “Braço Forte, Mão Amiga!”.

Para ser permanente, como diz a Constituição, faz-se mister que esses valores, absorvidos com a evolução da sociedade mundial, sejam também o espelho dos mais ricos ideais do povo brasileiro. Aliado a isso, e de forma absolutamente distinta das demais profissões, a entrega do bem jurídico maior – a vida – para a defesa da Pátria deve estar acima de qualquer sonho, desejo e devaneio. Ao militar, não é permitido nem ao menos a hipótese da dúvida! Por isso, a construção de seu pensamento e diálogo rápido, objetivo, clássico, ortodoxo e cartesiano.

A observação dos protocolos próprios do quartel é um excelente indicativo para seu povo a quantas anda a prontidão do seu Exército:

alvorada: 6h

hasteamento da Bandeira Nacional: 8h

arriação da Bandeira Nacional: 18h

silêncio: 22h

No intervalo desses importantes momentos, quando não em operação militar: o diálogo entre os oficiais e as praças nas formaturas, cerimônias e rotinas diárias; a instrução militar; o cuidado com a higidez física; os exercícios no terreno; a ordem unida e a manutenção do material de emprego militar.

Destaque especial às cerimônias de “entrega da boina” aos recrutas incorporados no ano corrente, de saudação aos patronos das armas, de datas cívicas e de entrega de medalhas.

E sempre: disponibilidade permanente!

Na rotina militar, não existe vazio referencial.

É certo também que a linguagem e o comportamento próprios criam no inconsciente coletivo popular a percepção do isolamento.

Erroneamente!

Diversas unidades do Exército apoiam as mais diferentes iniciativas, nas esferas municipal, estadual e federal, e aproximam crianças, jovens e adultos dos quartéis de suas cidades. Como exemplos, o Programa Força no Esporte, o Soldado Cidadão, os diversos convênios e acordos técnicos de apoio a um número significativo de universidades, visando ao atendimento por soluções de gestão pública.

Não à toa, o Exército é reconhecido como uma das instituições mais confiáveis do País.

Basta, pois, a promoção de uma aproximação da parcela social que ainda não o conhece.

É permitido conhecê-lo para integrar e interagir.

Estamos entusiasmados por oferecer essa “janela de oportunidade” à sociedade, em colaboração com o Sistema Nacional de Cultura!

Fonte: eBlog do EB

Marcelo Barros, com informações do Exército Brasileiro
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).