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Uma nova pesquisa publicada no Brazilian Journal of Science pode reescrever parte da história brasileira. Utilizando mapas interativos, imagens de satélite e conceitos da física geográfica, cientistas das universidades federais da Paraíba e do Rio Grande do Norte concluíram que o primeiro ponto de contato da frota de Pedro Álvares Cabral com o Brasil, em 1500, não teria sido na Bahia, como se ensina há séculos, mas sim no litoral do Rio Grande do Norte, próximo às praias do Marco e de Zumbi.
A ciência por trás da nova rota de Cabral: física e satélites
O estudo liderado pelos físicos Carlos Chesman (UFRN) e Cláudio Furtado (UFPB) traz um novo olhar sobre a viagem de Cabral ao cruzar dados históricos com análises científicas modernas. A principal inovação está na aplicação da força de Coriolis, um efeito físico causado pela rotação da Terra que influencia a direção dos ventos e das correntes marítimas — fator crucial para trajetos no Atlântico Sul.

A partir da releitura da famosa carta de Pero Vaz de Caminha, os pesquisadores extraíram referências sobre profundidade do mar, distância da costa e formação geográfica avistada pelos navegadores. Ao cruzarem essas descrições com imagens de satélite, mapas batimétricos e simulações computacionais, encontraram coincidências geográficas mais próximas ao litoral potiguar do que ao sul da Bahia.
A análise também indica que, com as correntes marítimas predominantes da época e os ventos alísios agindo sob o efeito da Coriolis, a frota teria naturalmente sido direcionada para uma latitude mais ao norte. Essa combinação de fatores científicos e históricos fortalece a hipótese de que o atual Rio Grande do Norte pode ter sido o verdadeiro local do primeiro avistamento das terras brasileiras.
O impacto cultural e identitário da possível nova chegada no RN
Se confirmada ou amplamente aceita, a hipótese de que a chegada de Cabral ocorreu no Rio Grande do Norte pode ter efeitos significativos no imaginário nacional e regional. Por séculos, Porto Seguro, na Bahia, foi tratada como o “berço do Brasil“, com simbolismo histórico e relevância turística. Mas agora, municípios como Pedra Grande e Rio do Fogo ganham força como cenários potenciais do início da colonização portuguesa.
Essa nova leitura da história pode impulsionar ações de valorização cultural e investimentos em turismo histórico, transformando locais até então pouco explorados em polos de interesse acadêmico e turístico. Para a população potiguar, trata-se de um reconhecimento simbólico importante — uma possível “redenção histórica” que fortalece a identidade regional nordestina dentro da narrativa fundacional do país.
A comunidade local já começa a se mobilizar, com líderes culturais e políticos defendendo a valorização dos sítios citados no estudo. Museus, roteiros históricos e projetos educacionais são caminhos possíveis para explorar essa nova versão dos fatos, ampliando o debate sobre quem conta a história do Brasil e a partir de que perspectiva.
A redescoberta do Brasil: quando a ciência desafia a História
Este não é o primeiro estudo a contestar a versão tradicional do Descobrimento do Brasil, mas é um dos mais completos em termos de metodologia científica e cruzamento de dados. A proposta de que o conhecimento histórico pode ser revisto à luz da ciência é um exemplo claro de como a História é uma disciplina viva, em constante diálogo com novas tecnologias e interpretações.
Ao lançar luz sobre um evento tão simbólico, os pesquisadores também tocam em temas sensíveis, como a forma como a história é ensinada, os símbolos nacionais e a centralização de narrativas em determinadas regiões. Mas essa é justamente a riqueza do processo científico: questionar, testar, propor e debater, sempre com base em evidências.
No fim das contas, mais do que um ataque à versão oficial, o estudo representa uma oportunidade de enriquecimento da memória nacional. Reavaliar os caminhos de Cabral não é apagar o passado — é compreender que ele pode ser mais complexo, diverso e interessante do que se imaginava. E que talvez o **verdadeiro ponto de partida do Brasil esteja um pouco mais ao norte do que nos ensinaram.
Com informações da UFRN
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