Mapa invertido do IBGE gera críticas e crise de imagem

Mapa mundi invertido com Brasil centralizado.
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Em uma semana marcada por escândalos envolvendo desvios de aposentadorias no INSS, o lançamento do mapa-múndi invertido pelo IBGE pareceu uma tentativa de desviar atenções. A simbologia do “Brasil no topo” logo foi alvo de comentários irônicos nas redes sociais. O sindicato do IBGE denunciou a medida como “uma ilusão gráfica” que prejudica a imagem da instituição. Críticos apontam que o episódio fere o princípio da imparcialidade técnica e fragiliza a confiança em um órgão fundamental para políticas públicas e dados oficiais.

Credibilidade institucional em xeque: o impacto do mapa no prestígio do IBGE

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sempre foi referência em imparcialidade técnica, rigor metodológico e prestígio internacional. A divulgação de um mapa-múndi com o Brasil centralizado e o Sul no topo gerou estranheza não apenas entre leigos, mas também entre pesquisadores e servidores da casa. Em nota, o sindicato dos trabalhadores do IBGE criticou duramente a decisão, classificando-a como uma “encenação simbólica” que compromete décadas de trabalho técnico e respeitado.

A crítica central reside no temor de que tal ação enfraqueça a percepção de neutralidade científica, essencial para a aceitação dos dados produzidos pelo Instituto, tanto no Brasil quanto em organismos internacionais. Afinal, o IBGE não é apenas um órgão de estatística — é um pilar para o planejamento público, a formulação de políticas sociais e a tomada de decisões econômicas.

A reação dos servidores e da sociedade diante de uma “ilusão gráfica”

A publicação do novo mapa ocorreu durante uma semana delicada para o governo, coincidentemente no auge das denúncias sobre fraudes contra aposentados do INSS. Para muitos observadores, a apresentação do novo material teve caráter de marketing simbólico, sugerindo um reposicionamento global do Brasil. Porém, o efeito foi o oposto.

Gráfico de roubo do INSS no governo Lula.
Imagem: Reprodução / Redes Sociais

Nas redes sociais, usuários ironizaram a medida. “O governo brasileiro é tão incompetente que vê o mundo de cabeça para baixo”, disse um internauta no próprio perfil oficial do presidente do IBGE, Marcio Pochmann. Outro afirmou: “Acho que esse tipo de coisa tira um pouco a credibilidade dos números que você fornece pelo IBGE”. A recepção negativa e os memes que se seguiram reforçaram o desgaste da imagem institucional.

Para os servidores, o sentimento foi de frustração. O tom da nota do sindicato revelou uma tentativa de blindar a credibilidade técnica da instituição contra interferências simbólicas e políticas. “Não se combate a realidade com ilusões gráficas”, afirmaram, defendendo a missão do IBGE de refletir a realidade com precisão — e não de “embelezá-la”.

Entre símbolo e realidade: quando a comunicação institucional desvia o foco

A proposta de colocar o Brasil no topo do mapa não é nova. Desde os anos 1970, movimentos pós-coloniais questionam a centralidade da Europa nos mapas convencionais. Entretanto, ao ser aplicada fora de contexto técnico e sem respaldo pedagógico claro, a mudança foi interpretada como manobra política em meio a crises de governança.

A iniciativa coincidiu com o aumento da pressão pública sobre o governo federal diante do escândalo envolvendo empréstimos consignados não autorizados a aposentados. Neste cenário, muitos analistas viram a campanha do mapa como uma tentativa de criar uma pauta positiva — que, no entanto, saiu pela culatra. Em vez de reforçar o orgulho nacional, o gesto produziu desconfiança, ruído institucional e enfraqueceu a imagem de uma das entidades mais respeitadas do país.

O episódio deixa uma lição clara: símbolos não substituem resultados reais. E instituições como o IBGE, que sustentam sua reputação na confiança dos dados, precisam redobrar o cuidado ao misturar comunicação simbólica com responsabilidade técnica.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).