Investimento ou exploração? O impacto da China na pesca de Gana

Foto: Select Committe on the CCP / house.gov
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Nos portos e vilarejos pesqueiros de Gana, a preocupação cresce. A construção de um novo porto pela empresa chinesa Rongcheng Ocean Fisheries promete desenvolvimento, mas também carrega um histórico sombrio de pesca ilegal e denúncias de trabalho forçado. Enquanto o governo permite que essas operações continuem, pescadores locais lutam para manter seus meios de subsistência diante da exaustão dos recursos marinhos. Esse é realmente um investimento para o futuro do país ou apenas mais um exemplo de exploração disfarçada de progresso?

O impacto da pesca ilegal e da exploração no setor pesqueiro de Gana

As águas ganesas são ricas em biodiversidade e historicamente essenciais para a subsistência de milhões de pessoas. No entanto, a pesca ilegal, não reportada e não regulamentada (IUU) tem causado estragos nos estoques pesqueiros, prejudicando não apenas a economia local, mas também a segurança alimentar da população. Empresas estrangeiras, especialmente as chinesas, têm sido apontadas como as principais responsáveis por essa exploração predatória.

Além dos danos ambientais, há um problema ainda mais alarmante: as denúncias de trabalho forçado em embarcações chinesas operando ilegalmente na região. Relatos indicam que pescadores ganeses são submetidos a condições brutais, trabalhando longas horas, sem equipamentos de segurança adequados e, muitas vezes, sendo coagidos a participar de práticas ilegais, como a pesca de espécies protegidas.

Apesar das evidências, as autoridades de Gana pouco têm feito para conter essas operações. Organizações de direitos humanos e ambientalistas criticam a passividade do governo, que permite que empresas como a Rongcheng Ocean Fisheries continuem expandindo sua influência no setor.

A presença chinesa nas águas da África Ocidental: investimento ou dominação?

O envolvimento da China na pesca e infraestrutura marítima de países africanos não é novidade. Nos últimos anos, Pequim tem investido bilhões de dólares na construção de portos, fábricas de processamento de pescado e frotas pesqueiras, garantindo o controle sobre recursos estratégicos.

O caso de Gana reflete um padrão já visto em outras nações da África Ocidental. Em países como Serra Leoa, Senegal e Guiné-Bissau, projetos financiados por empresas chinesas resultaram no colapso de estoques pesqueiros, perda de empregos para pescadores locais e um ciclo de dependência econômica. Em vez de fortalecer as economias africanas, essas iniciativas frequentemente favorecem os interesses chineses, permitindo que suas frotas tenham acesso privilegiado aos recursos naturais da região.

Os acordos entre governos africanos e empresas chinesas são frequentemente pouco transparentes, levantando suspeitas sobre corrupção e falta de regulamentação adequada. Em muitos casos, a infraestrutura construída acaba sendo controlada por empresas chinesas, enquanto as comunidades locais sofrem com a escassez de peixes e a destruição de seus meios de subsistência.

O futuro dos pescadores ganeses e a luta por um setor sustentável

Diante desse cenário, os pescadores ganeses enfrentam uma luta desigual. Competir com grandes frotas estrangeiras equipadas com tecnologia avançada torna-se quase impossível para quem depende de métodos tradicionais de pesca. Muitos veem seus rendimentos diminuírem drasticamente, forçando-os a abandonar a atividade ou aceitar condições precárias em embarcações controladas por empresas estrangeiras.

Para evitar que Gana siga o caminho de outros países africanos afetados pela exploração da pesca industrial, especialistas apontam algumas possíveis soluções:

  • Fortalecimento da fiscalização e combate à pesca ilegal, impedindo que embarcações estrangeiras operem sem controle.
  • Investimentos em tecnologias e capacitação para pescadores locais, permitindo que eles tenham condições de competir com grandes empresas.
  • Adoção de políticas de pesca sustentável, garantindo que os estoques pesqueiros sejam protegidos para as futuras gerações.
  • Maior transparência nos acordos com empresas estrangeiras, assegurando que os interesses ganeses sejam priorizados.

Além das ações locais, a comunidade internacional também tem um papel crucial. Organizações ambientais e de direitos humanos pressionam por regulamentações mais rígidas e por sanções contra empresas envolvidas em pesca ilegal e exploração de trabalhadores.

O novo porto da Rongcheng Ocean Fisheries pode ser apenas mais um capítulo na crescente influência da China sobre os recursos africanos. Mas, se nada for feito para proteger os interesses da população ganesa, o legado dessa “parceria” pode ser de destruição ambiental, pobreza e perda de soberania sobre um dos ativos mais valiosos do país: seu oceano.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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