GRUMEC: Os mergulhadores de combate da Marinha do Brasil

Membros do GRUMEC participam em funções específicas de ações de Garantia da Lei e da Ordem.

Concebido no início da década de 1970 com a finalidade de oferecer suporte às operações de desembarque de tropas na praia realizadas pelos navios da Marinha do Brasil (MB), o Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC) surgiu por ocasião da ascensão da modalidade de guerra irregular, manifestada em diferentes conflitos assimétricos travados em decorrência da Guerra Fria.

Inicialmente formado pela combinação de dois conceitos operacionais distintos (o americano, baseado nas ações de demolição de obstáculos de praia em proveito das operações anfíbias, e o francês, centrado nas operações de sabotagem das embarcações inimigas), o GRUMEC evoluiu gradativamente no decorrer do tempo, levando a unidade a desenvolver uma doutrina própria de emprego devidamente adaptada à conjuntura do cenário internacional.

Nesse contexto, devido à necessidade de adaptar-se ao ambiente difuso que emergiu com o fim da Guerra Fria, caracterizado pela presença de ameaças tradicionais (atores estatais) e pelo surgimento de novas ameaças (atores não estatais).

Coube ao GRUMEC o desafio de assumir responsabilidades distintas, como a colocação de explosivos nos cascos de navios, o levantamento e reconhecimento de praias escolhidas para desembarque anfíbio, a demolição de obstáculos naturais e artificiais nas praias escolhidas a fim de favorecer a chegada das embarcações e as ações de reconhecimento especial, a recuperação de pessoal e/ou material, a coleta de dados de inteligência, além de conduzir operações de combate ao narcotráfico e ações contraterrorismo.

“Para desempenhar suas tarefas operativas, nosso grupamento dispõe de três equipes de operações especiais (Alfa, Bravo e Charlie), igualmente capacitadas a conduzir ações de guerra não convencional nos ambientes marítimo, ribeirinho e terrestre”, explica o capitão de fragata Michael Vinicius Aguiar, comandante do GRUMEC.

“Por sua vez, o Grupo Especial de Retomada e Resgate/Mergulhadores de Combate constitui a quarta divisão operativa, vocacionada para atuar em resposta às ações perpetradas por elementos adversos em ambiente marítimo”, completou.

O GRUMEC possui ainda o Grupo de Desativação de Artefatos Explosivos e uma Equipe de Reconhecimento dotada de mergulhadores de combate especializados em tiro de precisão, dentre outras especialidades.

Embora os mergulhadores de combate tenham capacidade para operar tanto em ambiente terrestre quanto aquático, a MB prioriza empregá-los em ambiente aquático, em áreas marítimas e ribeirinhas para proveito das operações navais, resguardando a utilização da unidade em terra para situações esporádicas.

GRUMEC Os mergulhadores de combate2
Os mergulhadores de combate da Marinha do Brasil carregam, em média, 50 quilos de equipamento durante suas missões.

Com a finalidade de atender ao elevado nível de exigência, próprio das ações levadas a efeito como uma operação especial, a unidade se vale de um apurado conjunto de recursos humanos e materiais, mantendo sua proficiência com base na tríade que engloba: treinamento sistemático, engajamentos reais e intercâmbios com unidades estrangeiras análogas. Como por exemplo, os Navy SEALs (Marinha dos EUA), Agrupación de Buzos Tácticos (Grupo de Mergulhadores Táticos da Argentina), Buzos Tácticos de la Armada (Mergulhadores Táticos da Marinha do Chile), entre outras.

“Esse tipo de intercâmbio é fundamental para o aprimoramento e a atualização de táticas empregadas pelos países participantes”, revela o Capitão de Mar e Guerra (R) Diller de Abreu Junior, comandante do GRUMEC entre 2013 e 2014.

No decorrer do século XXI, o GRUMEC foi chamado a operar como parte do componente militar de duas importantes missões de paz constituídas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Um exemplo foi sua atuação como integrante da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, quando a unidade forneceu quadros operacionais para integrar o Batalhão Tonelero nas operações de combate às milícias que controlavam as favelas locais e impunham violenta oposição à presença das tropas da ONU.

Posteriormente, o GRUMEC participou ativamente dos planejamentos estratégicos de segurança, visando a supervisão de grandes eventos realizados no Brasil entre 2011 e 2016.

Atendendo às demandas que lhe foram conferidas por ocasião de eventos como os V Jogos Mundiais Militares (2011), a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (2012), a Jornada Mundial da Juventude (2013), a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo FIFA (2014) e os XXXI Jogos Olímpicos e XV Jogos Paralímpicos (2016)

Coube à unidade atuar como parte do Comando Conjunto de Prevenção e Combate ao Terrorismo, conduzindo, juntamente com as demais tropas de operações especiais das Forças Armadas brasileiras, um conjunto de ações de enfrentamento à ameaça terrorista.

Percebido pela MB como uma importante parcela de seu poder naval, o GRUMEC espelha-se nas referências do passado e do presente, prospectando as ações do futuro, esmerando-se no esforço de adaptar-se convenientemente às exigências impostas pelas diferentes ameaças presentes no cenário nacional e internacional.

  • Fonte: Revista Diálogo Américas, por: Rodney Lisboa. O autor é historiador militar, editor e autor do livro Guardiões de Netuno. Possui mestrado em Estudos Marítimos pela Escola de Guerra Naval da Marinha do Brasil.
  • DefesaTV
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).
Sair da versão mobile