Forças Armadas expõem crise orçamentária em reunião com Lula

Foto: Ricardo Stuckert/PR
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O presidente Lula ouviu de seus comandantes militares que a situação chegou a um ponto-limite. Em meio ao cenário global tenso, a Força Terrestre projeta um déficit de mais de R$ 500 milhões em recursos do Novo PAC, enquanto a FAB corre risco de paralisar voos por falta de combustível. A Marinha também enfrenta atrasos em contratos e manutenção, além da perda de capacidade de fiscalização de nosso litoral. O encontro marcou um ponto de inflexão entre governo e Defesa, com promessa de revisão orçamentária para o segundo semestre.

Impactos operacionais da restrição orçamentária

Com 91% do orçamento de Defesa destinado a despesas obrigatórias, as Forças Armadas operam com apenas 9% de verba para custeio e investimentos — um quadro que ameaça diretamente a capacidade operacional do país. Durante a reunião no Palácio do Planalto, os comandantes deixaram claro que, sem recursos para combustível, há risco de a Força Aérea Brasileira (FAB) manter suas aeronaves no solo, prejudicando a realização de patrulhas aéreas, transporte logístico e missões de defesa do espaço aéreo.

Na Marinha, atrasos em contratos já afetam a manutenção de embarcações, impactando as ações de patrulhamento marítimo e de segurança da navegação. O Exército Brasileiro, por sua vez, sinaliza um déficit de mais de R$ 500 milhões em recursos do Novo PAC, que compromete obras estratégicas, operações na fronteira, treinamentos de tropas e o apoio a ações conjuntas com outros órgãos da União. A consequência é uma redução do estado de prontidão militar, deixando o país vulnerável em um contexto internacional marcado por tensões geopolíticas e conflitos híbridos.

Risco à soberania e à atuação em emergências nacionais

A escassez de recursos não impacta apenas os exercícios militares e o desenvolvimento tecnológico, mas também a capacidade das Forças Armadas de atuar como braço do Estado em emergências. Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), transporte de insumos médicos, atendimento em áreas isoladas, ações contra desastres naturais e incêndios florestais dependem da logística e do preparo das tropas. Com restrições financeiras, essas missões constitucionais podem ser prejudicadas, afetando diretamente milhões de brasileiros.

Além disso, a falta de investimentos compromete projetos estratégicos nacionais, como o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) e o míssil tático de cruzeiro AV-TM 300, ambos essenciais para garantir autonomia tecnológica, dissuasão militar e soberania nacional. Esses programas envolvem parcerias com universidades, centros de pesquisa e geração de empregos de alta qualificação — e sua paralisação representa perda de conhecimento, tempo e recursos acumulados ao longo de anos.

A PEC da Previsibilidade como resposta institucional

Diante do cenário crítico, os comandantes defenderam a aprovação da PEC da Previsibilidade, proposta que visa garantir o aumento progressivo dos investimentos em Defesa até atingir 2% do PIB em oito anos — índice recomendado pela OTAN. A proposta, travada há mais de um ano, passou a tramitar com mais força após a designação do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), como relator na CCJ.

A PEC é vista como uma solução estrutural e suprapartidária, capaz de garantir continuidade orçamentária para projetos estratégicos, independentemente das trocas de governo. Para os militares, a medida permitiria planejamento de longo prazo, fortalecimento da indústria de defesa nacional e preparo permanente das tropas frente aos novos desafios do século XXI. A ausência dessa previsibilidade coloca em risco não apenas os programas militares, mas a capacidade do Brasil de exercer sua soberania plena em terra, mar e ar.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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