Imagem: USAF/Domínio Público

Quando as pessoas ouvem falar em avião stealth (geralmente traduzido para “invisível”; o mais correto é “furtivo”), o que vem à cabeça é o icônico B-2 Spirit. Um bombardeiro pesado que continua a fazer seu serviço: decolar dos Estados Unidos, despejar sua carga, e voltar sem escalas ou ser detectado. Mas o bombardeiro tem um primo quase esquecido: o F-117 Nighthawk.

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O B-2 com dois F-117 o seguindo (Imagem: USAF/Domínio Público)

Talvez tio, mais que primo. É um projeto precursor, que não deu muito certo. Aposentados em 2008, os caças F-117, com sua forma inconfundível, foram avistados no começo do mês sendo transferidos para um aeroporto militar em Fresno (Califórnia). Então, começou-se a especular o que estaria acontecendo. Agora sabemos (mais adiante).

Obviamente, o avião “invisível” foi avistado porque não é invisível (nenhum é). Ele é pintado em cores escuras para ser difícil de enxergar à noite (o que já era feito na Primeira Guerra) mas o que o torna de diferente é que é muito difícil de detectar por radar, e toda sua geometria é pensada nisso. Essa é a tecnologia stealth, que já foi exclusividade dos EUA.

E o F-117 não tem um histórico não exatamente heroico. Um deles chegou a ser derrubado por forças sérvias usando equipamento soviético dos anos 1960 durante o bombardeio da OTAN na Guerra do Kossovo. Pondo em séria questão isso de “invisível”. E era tão obsoleto que os EUA não se importaram em destruir a carcaça para evitar que caísse em mãos russas ou chinesas, porque já não era mais relevante.

F-117: o caça que não caçou

O projeto, anunciado oficialmente em 1989, no mesmo ano em que o B-2 se tornou público, já nasceu obsoleto. A forma tão cheia de facetas é fruto de uma limitação computacional. Os computadores de 1975, quando o projeto começou, não eram capazes de simulações que permitissem projetar um avião stealth curvo. O F-117 decolou pela primeira vez em 1981, no mesmo ano em que o B-2 começava a ser projetado.

A diferença entre eles mostra a evolução dos computadores em seis anos. Não é esdrúxulo pensar que o F-117 é um B-2 com baixo número de polígonos, uma espécie de versão Playstation 1.

O formato, que os pilotos de teste nos anos 1970 achavam que seria capaz de voar, quer dizer que nunca funcionou muito a contento. Por conta da sua complexidade de suas superfícies, ele só pode voar com a ajuda de computadores – mas é equipado com computadores dos anos 1970. Então nunca fez seu trabalho muito bem.

O F-117, com o nome indica, com o F de “fighter”, era para ser um caça. Um caça-bombardeiro pesado furtivo. Por sua falta de manobrabilidade, e por não ter capacidade supersônica, nunca serviu como caça, usado apenas para ataque a solo.

Em 2008, o projeto foi abandonado de vez em favor do também não muito feliz F-22, que em 2012 pararia de ser produzido em favor do F-35.

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F-22, F-117, F-4 e F-15, em foto de 2007 (Imagem: USAF/Domínio Público)

Um retorno nada glamuroso

Esta semana foi revelado o que os F-117 estavam fazendo na Califórnia: servindo de alvo. A Força Aérea dos EUA se manifestou pelo tenente-general (equivalente a um major-brigadeiro da FAB) Michael Loh.

A ideia, ele explicou, é usá-lo para treinar os pilotos para combater os novos mísseis de cruzeiro russos e chineses, que hoje contam com tecnologia stealth.

Um míssil de cruzeiro, como o Tomahawk dos EUA, é na verdade um drone suicida, não um foguete. Mísseis de cruzeiro não fazem uma trajetória parabólica (esses são os mísseis balísticos), mas voam como um avião. Daí um avião ser um bom substituto nos treinos.

“Quando você olha para os 117s que vem e pousam e fazem suas coisas, eles são uma plataforma stealth, correto?”, afirmou Loh. “Dos primeiros dias [da tecnologia] stealth, mas ainda assim são uma plataforma furtiva. Então eles podem simular coisas que existem como mísseis de cruzeiro que de fato iríamos enfrentar. Então eles são uma plataforma perfeita para um exercício de defesa de mísseis de cruzeiro? Absolutamente!”

OS F-117s não estão sendo destruídos, para ficar claro. Só estão voando em trajetórias imitando os mísseis e os pilotos, em aviões desarmados, tentam achá-los e travá-los em sua mira, momento em que eles teriam sido derrubados na vida real.

Ironia final: os caças usados no treino, da Guarda Nacional Aérea, não são topo de linha. São velhos F-15 e F16 modernizados. Voando pela primeira vez em 1972 e 1974, são anteriores ao próprio malfadado F-117.

Fonte: Olhar Digital