Brasil na contramão Global: Enquanto o mundo se rearma, país vive desmonte de sua Defesa Nacional

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Em meio a uma onda global de rearmamento, o Brasil parece seguir em sentido contrário. Enquanto os 32 países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) aprovaram nesta semana uma nova meta histórica de investimentos em defesa — 5% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2035 —, o Brasil acumula cortes, contingenciamentos e incertezas orçamentárias que já comprometem a operacionalidade mínima de suas Forças Armadas.
A decisão da OTAN representa uma resposta direta ao cenário geopolítico mais instável desde o fim da Guerra Fria. De acordo com o secretário-geral da aliança, Mark Rutte, “dada a ameaça dos russos e a situação internacional, não há alternativa”. Países como Polônia, Alemanha, Reino Unido, França, Estados Unidos e os Estados Bálticos já indicaram que cumprirão a nova meta. A lógica por trás da decisão é clara: dissuasão eficaz requer investimentos maciços e contínuos.
No entanto, o Brasil — potência continental com 17 mil km de fronteiras terrestres, mais de 4,5 milhões de km² de território marítimo na chamada Amazônia Azul, vastos recursos minerais, reservas de água doce e um protagonismo internacional em construção — vive o oposto: a desconstrução técnica e operacional de sua defesa nacional.
Cortes em cascata e paralisia de projetos estratégicos
Segundo dados obtidos pela CNN Brasil, apenas 16,4% do orçamento previsto para o Plano Estratégico do Exército (PEEx) 2024-2027 foi executado. Projetos como a modernização de viaturas blindadas, o sistema de mísseis Astros, a ampliação da frota de helicópteros e o SISFRON (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras) estão atrasados, subfinanciados ou paralisados.
O SISFRON é um caso emblemático: com previsão original de conclusão em 2021, hoje acumula apenas 30% de execução, e sua entrega total foi adiada para 2039, sem garantias de cumprimento. O impacto desse atraso é direto na capacidade de fiscalização das fronteiras amazônicas, onde o narcotráfico, o garimpo ilegal e a biopirataria proliferam.
Na Marinha, o cenário é igualmente crítico. O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), que inclui o ambicioso projeto do Submarino de Propulsão Nuclear, exige um aporte adicional de R$ 1 bilhão por ano para manter o cronograma até 2035. Atualmente, recebe cerca de R$ 2 bilhões anuais — a metade do necessário.
Sucateamento em curso: “modo sobrevivência”
O alerta é generalizado nas Forças Armadas. Com a contenção de R$ 2,6 bilhões no orçamento da Defesa em 2025, militares afirmam que a operação já entrou no chamado “modo sobrevivência”. Falta combustível para patrulhas navais, aeronaves paradas por falta de peças, adestramentos cancelados e viaturas sendo sacrificadas em operações humanitárias sem previsão de reposição.
As palavras do general Hertz Pires do Nascimento, comandante militar do Sul, refletem essa realidade: “Só em Canoas, perdemos cinco caminhões. A água levou tudo. Motores, botes, viaturas. Estamos usando verbas que eram destinadas ao preparo da tropa.”
A Marinha já anunciou que 43 embarcações serão desativadas até 2028, cerca de 40% da esquadra. Ainda não há garantias orçamentárias para substituições.
Brasil gasta menos que os vizinhos
Mesmo sendo uma das maiores economias do mundo, o Brasil ocupa hoje a sétima posição em investimentos militares na América do Sul, atrás de países como Colômbia, Equador, Uruguai, Chile e Bolívia. Enquanto a Colômbia investe 2,9% do seu PIB em Defesa, o Brasil gira em torno de 1,1%, sendo que 85% desse valor vai para pagamento de pessoal ativo e inativo.
Em comparação, os Estados Unidos destinam 3,4% do PIB (US$ 916 bilhões) e o Reino Unido, 2,3% (US$ 74,9 bilhões). Para a OTAN, 2% já é o mínimo, e agora a meta foi ampliada para 5% do PIB, somando investimentos diretos em armamentos, infraestrutura de mobilização e segurança cibernética.
Negligência orçamentária e risco geoestratégico
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, tem repetidamente alertado que não há previsibilidade orçamentária para a pasta, e que a ausência de uma bancada parlamentar dedicada à Defesa deixa o setor à mercê das decisões do Executivo. Em 2023, dos R$ 121 bilhões orçados, R$ 103 bilhões foram para folha de pagamento e apenas R$ 8 bilhões (6,6%) para investimento em novos meios.
A proposta de fixar 2% do PIB como piso constitucional para Defesa — PEC 55/2023 — está parada no Congresso, mesmo com apoio de comandantes das três Forças. Até mesmo a proposta alternativa de 1,5% da receita corrente líquida enfrenta resistência.
Governo sinaliza rejeição à escalada militar
Apesar dos apelos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue crítico aos investimentos militares. Em diversos fóruns internacionais, tem defendido que o Brasil “não quer gastar com guerra” e prefere focar em “mudanças que melhorem a vida das pessoas”. Em paralelo, a realidade mostra que as Forças Armadas têm sido imprescindíveis em ações de resgate e socorro — como no desastre no Rio Grande do Sul e nas missões humanitárias na Amazônia.
Henrique Alvarez, doutorando em Políticas Públicas e especialista em Defesa, alerta:
“Se os cortes forem permanentes, podem levar ao cancelamento de compras, atraso em entregas e impacto direto na Indústria Nacional de Defesa. Sem novos equipamentos, o Brasil perde capacidade de dissuasão e mobilização rápida — não só em caso de guerra, mas em desastres naturais e emergências sanitárias.”
Um abismo crescente
O mundo assiste a uma reconfiguração da ordem global baseada na força. Enquanto isso, o Brasil se distancia de seus pares e arrisca comprometer sua soberania, seu papel regional e sua capacidade de resposta em crises.
Manter forças armadas operacionais não é uma escolha ideológica — é um imperativo geopolítico. E o desmonte silencioso da Defesa pode ter um custo que nenhuma economia ou pacifismo simbólico poderá reverter a tempo.
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