Suécia teme vazamento de tecnologia do Gripen para a Rússia

A participação de Lula ao lado de Vladimir Putin na parada militar russa foi mais do que um gesto simbólico — foi o estopim para um alerta diplomático. Na Suécia, crescem os temores de que a parceria tecnológica no programa Gripen E/F possa ser comprometida por riscos de espionagem militar e interferência estratégica russa. Em um mundo polarizado, alianças diplomáticas podem comprometer contratos bilionários e transferências críticas de conhecimento militar.

Riscos estratégicos: como o Gripen pode se tornar alvo da guerra tecnológica

Desde que a Suécia ingressou na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o país passou a alinhar mais estritamente sua política de defesa às diretrizes da aliança ocidental, o que inclui uma vigilância maior sobre transferências de tecnologia militar. O Brasil, parceiro estratégico no desenvolvimento do caça Gripen E/F, agora é observado com desconfiança por setores políticos e militares suecos, diante de possíveis riscos de vazamento de informações sensíveis para a Rússia.

A principal preocupação recai sobre o acesso a códigos, sistemas embarcados e protocolos de comunicação do Gripen, que, se expostos, poderiam permitir ao Kremlin desenvolver contramedidas eletrônicas, estratégias de neutralização ou até novas armas direcionadas a aeronaves desse tipo. Tal cenário colocaria em risco não apenas os interesses suecos, mas também a segurança coletiva dos países da OTAN que operam ou cogitam operar a plataforma.

Diplomacia e Defesa: os efeitos da aproximação Lula–Putin na percepção europeia

O gesto político mais recente que alimentou o mal-estar diplomático foi a presença do presidente Lula na parada militar do Dia da Vitória em Moscou, realizada em 9 de maio. O evento, marcado pela exaltação das vitórias soviéticas na Segunda Guerra Mundial, também tem sido usado por Vladimir Putin como ferramenta de propaganda em plena guerra na Ucrânia. A presença de um chefe de Estado latino-americano, como Lula, foi interpretada na Europa como um afastamento do Brasil dos valores democráticos ocidentais, além de um aceno direto ao Kremlin.

Tal aproximação gera ruídos não apenas nas relações diplomáticas, mas também nos acordos de defesa. A Saab, fabricante sueca dos Gripen, mantém oficialmente uma postura neutra, afirmando confiar no Brasil como parceiro, mas a decisão sobre transferência de tecnologias estratégicas é política e depende do governo sueco. O receio é que os laços entre Brasília e Moscou resultem em restrições futuras, atrasos em entregas ou limitação no acesso a tecnologias sensíveis.

O futuro da parceria Brasil–Suécia: entre a confiança militar e a geopolítica global

Desde a assinatura do contrato com a Saab, o Brasil tem desempenhado papel crucial no desenvolvimento e montagem dos Gripen E/F, com transferência de tecnologia para a Embraer e outras empresas nacionais. A ideia era transformar o país em um polo regional de manutenção e exportação do modelo. No entanto, o novo contexto geopolítico impõe desafios a essa trajetória. A confiança, elemento vital em programas militares bilaterais, encontra-se sob teste.

Enquanto o Brasil mantém sua neutralidade formal em relação à guerra na Ucrânia, a percepção internacional, especialmente entre os aliados da OTAN, é de que o governo Lula adota uma postura ambígua diante do conflito. Isso pode prejudicar não apenas a continuidade do programa Gripen, mas também futuras parcerias em defesa com países europeus.

O caso evidencia como decisões diplomáticas impactam diretamente a indústria de defesa, transformando gestos simbólicos em vetores de instabilidade ou cooperação. Em tempos de conflito híbrido e competição por supremacia tecnológica, a política externa brasileira assume peso cada vez maior nos bastidores da segurança global.