A lição do Endurance: adaptabilidade e liderança em tempos de mudança

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Em 2022 nos surpreendemos com a descoberta do Endurance.
A embarcação, que naufragou em 1915 no mar de Wendell (Antártida), retornava à vida pelas imagens da expedição Endurance22 e, pelos jornais, que surpreendendo a todos, repostaram o vídeo da embarcação – intacta após mais de um século submersa no mar gelado – e que foi guiada por Sir Ernert Shackleton em sua Expedição Imperial TransAntártica.
A beleza do vídeo ao mostrar a embarcação – que possui o simbolismo nominal de “resistência” – reacendeu na memória o livro “A Incrível viagem de Shackleton”, baseado nos Diários de Bordo dos Tripulantes do Endurance. E que, dentre tantos desafios na jornada individual e conjunta, mostram a importância da resiliência perante os desafios, o poder da liderança, a importância da capacitação e, da divisão de tarefas, a conscientização das mudanças e dos processos e, a identificação de cada membro da tripulação para cada fase específica dessa viagem, que também é uma jornada.
(Quase uma jornada de herói…)
Todos nós estamos inseridos em uma jornada de desafios. Algumas destas emocionantes e digitais, outras que demandam por maior inteligência emocional e – no pós-pandemia – um caminho que todos estamos trilhando é o de cenários desconhecidos e de um normal “ainda” incerto, mas com um chamado individual e coletivo para uma atuação – e ação – de reconstrução, adaptabilidade. E é neste ponto que o retorno à vida do Endurance pode ser o exemplo que precisamos para nos manter adaptados, criativos e flexíveis à nova realidade.
Alguns cenários apresentados nos estudos da McKinsey e do Global Risks Reports 2024 apontaram que as mudanças na forma de trabalho e as mudanças climáticas desordenadas são os principais temas de transformação, oportunidades e realocação da capacidade humana. E por que estas duas temáticas surgem – de forma inesgotável – em todos os estudos de cenarização? Elas surgem por serem irrevogáveis no percurso que nos encontramos. E é a partir dessa consciência da realidade – e dos desafios apresentados – que podemos construir soluções e adaptabilidade, seja no nosso ambiente individual, seja no ambiente profissional e coletivo.
A jornada de Shackleton e seus 22 tripulantes a bordo do Endurance, previa as grandes placas de gelo, o mantimento necessário para alimentar todos – incluindo um membro clandestino – a necessidade de se ter a bordo profissionais qualificados em suas áreas.
Mas o cenário da viagem mudou.
Shackleton e sua tripulação encontravam-se no Endurance presos em placas de gelo e, observando a evolução da situação, compreenderam que era preciso alterar os planos e reconstruir todos os processos para sobreviverem. Porque do contrário, iriam naufragar junto com a embarcação.
Transferiram-se para uma ilha. Mudaram o transporte para embarcações “salva-vidas” – o famoso James Caird, alteraram as prioridades e funções dos tripulantes – inclusive dos animais. Reorganizaram-se.
Reorganizaram-se em um ambiente climático desafiador, com poucos suprimentos, dividindo-se em pequenas equipes para avançar e, mantiveram o compromisso – e a confiança – entre a tripulação.
E quando aproximamos essa jornada para os dias atuais, pensamos nas mudanças – algumas aceleradas como situações em que nos encontramos em “manobras” ou no coração de decisões, que precisam de assertividade e urgência – e, sabemos que a situação é híbrida, muitas das vezes com poucos dados e informações para avançarmos de forma segura.
Há pouco mais de 30 anos atrás, estrategistas do United States Army War College (USAWC) utilizaram a terminologia VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade) para descrever situações por meio de quatro elementos principais que demonstravam o entendimento da complexidade da tomada de decisões. Mas, com a evolução tecnológica, a pandemia e o aumento das incertezas, a terminologia para compreender e descrever as situações evoluiu para a terminologia BANI (Frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível). E por que é importante termos a compreensão destas siglas? Porque para vivenciarmos esta nova realidade é necessário que tenhamos propósito, visão, agilidade e comunicação como habilidades essenciais.
O foco passa a ser o ser humano e suas habilidades (Opa, estamos falando de soft skills?). É algo novo? Observando a jornada de 1914, que durou dois anos, de Sir Ernert Shackleton para sobreviver e manter viva sua tripulação, talvez não… talvez mais do que tecnologia, seja necessário liderança e experiência.
E, por mais desafiador que a jornada para este novo tempo possa assustar os mais experientes, podemos, diariamente, nos reinventar, reconstruir nossas atitudes e nossa perspectiva perante as mudanças, seja no ambiente de trabalho com nossas equipes, seja individualmente, direcionando nossas ações para um olhar global.
Que a leitura sobre a viagem de Shackleton seja um motivador para assumirmos uma postura responsável em circunstâncias adversas, lembrando-nos sempre de reavaliarmos continuamente nossa missão nos processos e o desenvolvimento contínuo da liderança, pessoal e coletiva.
[…] o que cerca de um minuto e meio antes parecia ser uma perspectiva aterrorizante, transformara-se em um triunfo extraordinário. […] e sentiram o tipo especial de orgulho de quem, num momento de insensatez, aceita um desafio que não tem como vencer e depois se sai à perfeição. (Alfred Lansing em “A incrível viagem de Shackelton, 2004, p.329).
Que possamos ter a confiança de Sir Shackleton de aceitar os desafios e, corrigir a jornada no caminho, se necessário. Uma ótima sexta e um final de semana com boa leitura garantida!

Referências:
Navio Endurance de Ernest Shacketon descoberto ao largo da Antártica. Acesso: https://bityli.com/YEvJM
LANSING; Alfred. A incrível viagem de Shackleton: a mais extraordinária aventura de todos os tempos. Trad. Sérgio Flaksman. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
12 highligts from Mckinsey Global Institute 2021 Research. Acesso: https://www.mckinsey.com/mgi/overview/2021-turning-point-reinvention-and-opportunity-in-the-economy-of-the-future?cid=other-soc-lkn-mip-mck-oth—&sid=6568610814&linkId=156614790
World Economic Forum. The Global Risks Report 2024. 19 Edition. Insight Report. Acesso: https://reliefweb.int/report/world/global-risks-report-2024-19th-edition-insight-report?gad_source=1&gclid=CjwKCAjw_Na1BhAlEiwAM-dm7GOGIH4UXKAAYHgybpW9NkeMpO9izep-ULgp1rOYCJ2eNvhAIh-7RxoCTsIQAvD_BwE
PIMENTA; Marcelo. O que é o mundo BANI e quais competências você precisa conhecer? Acesso: https://bityli.com/OSHPZ
U.S Army Heritage & Education Center. Who first originated the term VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity)? Acesso: https://usawc.libanswers.com/faq/84869
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