O estudo “Dating Gondwanan continental crust at the Rio Grande Rise, South atlantic” realizado por pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e com o apoio da Marinha do Brasil, teve como objetivo investigar a origem das rochas cristalinas recuperadas no leito do oceano Atlântico na Elevação do Rio Grande (ERG). Esta área está localizada a cerca de 1.200 km de distância da costa brasileira. Além disso, buscou desvendar sua formação e origem, a partir das rochas continentais encontradas naquela região, dando subsídios para entender todo o potencial econômico, científico e estratégico.

Durante a pesquisa, pôde-se entender como era a configuração das placas tectônicas Africanas e Sul-Americanas há aproximadamente 90 milhões de anos, quando foi formado a ERG. Atualmente essas placas se afastam cerca de 5 a 7mm por ano. A partir das análises geocronológicas das amostras da ERG, sugeriu-se que as fontes são condizentes com as rochas cristalinas do lado Africano.

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Carlos Ganade com uma amostra de rocha cristalina encontrada na ERG

Segundo o pesquisador-chefe do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CEDES) da CPRM, Carlos Ganade, essa descoberta tem uma grande importância científica. “A possibilidade de encontrar rochas continentais na Elevação do Rio Grande abre uma nova perspectiva para entendermos como o Brasil e a África se separaram, como o oceano atlântico evoluiu, além de entender como o processo de quebra continental e desenvolvimento de oceanos podem criar elevações como esta”, afirma.

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O globo terrestre é dividido por placas tectônicas, quando o Oceano Atlântico estava sendo criado elas tinham configurações diferentes do que se encontram nos dias atuais, mas ao longo do tempo e com o movimento delas na presença de anomalias termais, grandes elevações topográficas submersas são criadas – a exemplo da ERG.

Nesse caso específico, uma parte da placa tectônica da África ficou “aprisionada” dentro da placa sul-americana há aproximadamente 90 milhões de anos, explicando o porquê de terem encontrado rochas com afinidade africana tão perto do Brasil. No entanto, Ganade também frisa que: “Brasil e África são expressões territoriais políticas atuais e que no início da abertura do Atlântico, há cerca de 130 milhões de anos, ambas regiões pertenciam a um único continente chamado Gondwana”. Este estudo tem grande importância para o Brasil, seja nas áreas científica e econômica porque ao longo de toda margem atlântica há diversos sistemas petrolíferos. “Entender todas as estruturas do continente é importante para decifrar o posicionamento das bacias que hospedam sistemas petrolíferos nas margens continentais”, destaca Ganade.

Desde 2009, o Serviço Geológico do Brasil passou a desenvolver pesquisas na área da Elevação do Rio Grande, onde rochas continentais foram encontradas e datadas, além de outros minerais como gálio (metal), nióbio, telúrio (semimetal), selênio (presente em alimentos) e estruturas de liberação de gás, assim surgindo várias questões sobre sua origem. Segundo o pesquisador Roberto Ventura, a CPRM em parceria com a UnB foram os responsáveis pelo primeiro estudo desenvolvido na área.

Essa descoberta trouxe benefícios para a CPRM, como por exemplo, a realização de um consórcio do Navio de Pesquisa Hidroceanográfico Vital de Oliveira junto com a Petrobras, Vale, Marinha do Brasil e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), que irá permitir à empresa a utilização por três anos da embarcação, composta por equipamentos científicos que irão auxiliar no desenvolvimento de pesquisas.

“Esse estudo possibilitou aos pesquisadores saberem como os continentes se formaram e como esses “pedaços”, como a Elevação do Rio Grande, são deixados para trás. Além disso, nesta área foram encontradas estruturas de liberação de gás, tendo grande potencial para a economia do país”, acrescenta Ventura ao destacar a importância econômica e científica para o Brasil.

O artigo foi publicado no jornal científico internacional Terra Nova Wiley, que possui grande relevância internacional na área de Geociências, integrando a classificação Q1, entre as 25% mais impactantes. Elaboraram o estudo: Roberto Ventura, Carlos Ganade, Christian Lacasse, Iago Costa, Ivo Pessanha, Eugênio Frazão, Elton Dantas e José Cavalcante.

Para ler a publicação na íntegra, acesse aqui.

Gabriella Arraes
Pedro Henrique Santos
Assessoria de Comunicação
Serviço Geológico do Brasil – CPRM

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).