Na foto, Marechal Rondon descansa em acampamento durante missão, imagem reproduzida de fotograma de documentário exposto no Museu do Índio

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Os desafios mudaram, mas os investimentos em tecnologias de comunicação continuam fundamentais para proteção e segurança do país

Em homenagem ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958), o Dia das Comunicações é comemorado no dia do seu nascimento, em 5 de maio. Com uma visão humanitária e estratégica, Rondon foi um homem à frente do seu tempo, e sua vida e ideais continuam sendo exemplos para novas gerações de militares e profissionais apaixonados pelas Comunicações.

Pioneiro no esforço de integração nacional, Rondon levou o telégrafo aos rincões do Brasil, conectando a Amazônia ao Rio de Janeiro, então capital do Brasil. O Patrono das Comunicações percorreu mais de 100 mil quilômetros e, ao longo da sua trajetória, além das linhas telegráficas ainda viabilizou estudos científicos, fez levantamentos cartográficos e defendeu os povos indígenas.

“Os princípios defendidos por Rondon continuam valendo no campo do Exército: a gente conecta, viabiliza e agrega valor à qualidade da informação. A grande mudança foi que houve um grande aumento da velocidade das comunicações, fruto das tecnologias usadas, satélites, fibra ótica, e centros de processamento, por exemplo”, afirma o Coronel Marcelo Nogueira de Sousa, engenheiro de comunicações e pesquisador do IME (Instituto Militar de Engenharia).

Passados mais de um século do pioneirismo de Rondon, as constantes inovações tecnológicas na área das comunicações e da computação continuam impondo grandes desafios ao País.

“O mundo foi evoluindo e nas comunicações foi integrando cada vez mais funcionalidades. Antigamente, havia uma área bem definida das comunicações, que era conectar lugares e pessoas, e outra que era de informática, de computação, para processamento. Hoje essas áreas se confundem, você tem comunicações e computação cada vez mais integradas, aumentando as capacidades de Comando e Controle”, disse Coronel Nogueira.

Segurança das Informações exige atualizações

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Coronel Marcelo Nogueira de Sousa, engenheiro e pesquisador do IME

Essa evolução resultou ainda no surgimento de um novo campo de batalha: o cibernético. Segundo Coronel Nogueira, o Exército Brasileiro já tem atuação no campo cibernético, nas comunicações, e na guerra eletrônica, com áreas funcionais que lidam com essas novas questões.

Mas, ao mesmo tempo que os recursos avançados permitem que os exércitos tenham melhor consciência situacional, e possam agir com maior precisão e rapidez, também tornam mais vulneráveis aqueles que não acompanham essa evolução no campo militar. Manter atualizados os sistemas de proteção da conectividade e das informações é um desafio constante, que exige investimentos em aquisição e desenvolvimento de novas tecnologias, pois nos tempos atuais o domínio dos dados e informações é importante “arma” de combate.

“Você tem que saber como proteger suas informações. Mas isso é uma briga de gato e rato, quando tem uma nova proteção, surge um novo tipo de ataque. Mesmo os países mais avançados têm vulnerabilidade de comunicações, vimos isso acontecer com vários países, recentemente”, explica o Coronel.

De acordo com ele, a segurança das comunicações envolve equipamentos, procedimentos, e até mesmo a cultura das pessoas. “Hoje, o foco do país não é no equipamento em si, mas no desenvolvimento de código de criptografia próprio, que as Forças Armadas dominam, e no treinamento e capacitação dos usuários.”

A pandemia gerou um alerta

Segundo o pesquisador, atualmente existe um problema de logística industrial para algumas demandas da área da Defesa, por isso é mais viável comprar fora do que fazer uma planta fabril verticalizada.

“Porém quando você enfrenta um problema como o que ocorreu durante a pandemia, você se vê fragilizado porque é dependente de importação. A pandemia mostrou que é importante para a autonomia de um país ter setores estratégicos independentes. Eu acredito que depois desta experiência, as empresas, o Exército, o governo, todos vão começar a se debruçar sobre esse nível de dependência em áreas estratégicas”, avalia o pesquisador.

Para exemplificar o risco gerado pela dependência de importações de produtos estratégicos no caso de eclosão de uma guerra ou conflito, Coronel Nogueira relembra um fato histórico: os Soldados da Borracha.

Durante a 2ª Guerra Mundial, os Estados Unidos ficaram impossibilitados de produzir borracha para os aparelhos militares, como aeronaves e tanques, pois dependia de matéria-prima importada da Indonésia, que estava sob o domínio do Japão. Naquela época ainda não havia borracha sintética e o ciclo da borracha no Brasil já havia encerrado.

Para ajudar o país aliado, o governo brasileiro recrutou cerca de 60 mil trabalhadores e enviou para fazer a coleta de látex na Amazônia, um esforço de guerra para atender a demanda norte-americana.

“Poucas pessoas lembram dos Soldados da Borracha, mas eles foram fundamentais para os Estados Unidos. De nada adiantava o potencial do parque fabril americano, pois ele dependia da borracha. Sem esses brasileiros buscando borracha na Amazônia, a retomada dos aliados na Segunda Guerra seria muito mais difícil”, explica o engenheiro militar.

Soluções para autonomia nacional

Sobre eventual risco gerado ao Brasil pela atual dependência de tecnologias estrangeiras na área da Defesa, Coronel Nogueira diz que olha com otimismo para o futuro, e acredita na capacidade de resiliência do parque fabril no caso de um conflito, assim como ocorreu durante a pandemia.

“Hoje você tem um nível alto de dependência da tecnologia, mas no Exército, por exemplo, a gente mantém todas as capacidades ativas. Temos os níveis de satélite, temos a comunicação por fibra ótica, e ainda a estrutura de rádios HF, usando ionosfera, para viabilizar, se for necessário, um meio de comando e controle. Um exemplo é o que aconteceu no Haiti, quando teve o terremoto, os níveis de satélite não funcionaram, a gente manteve a informação do que estava acontecendo lá por rádio da HF”, relata o pesquisador.

Uma saída para reduzir essa dependência tecnológica, na avaliação do pesquisador, seria promover um esforço conjunto para desenvolver uma logística industrial que viabilizasse investimentos no segmento de telecomunicações na área da Defesa.

“Eu acredito que o Exército poderia, junto ao escopo do Ministério da Defesa, fazer uma articulação que viabilizasse essa logística industrial de defesa no segmento de telecomunicações, com foco naquilo que vale a pena a gente verticalizar no país”, disse Coronel Nogueira.

Segundo ele, a dualidade precisa ser pensada de modo criativo, pois em muitos casos, o volume de compras das Forças Armadas não viabiliza o investimento necessário para a verticalização.

“Esta dualidade tem que estar na concepção. Se na criação do projeto eu faço um gerenciamento dos requisitos que atendam, por exemplo, o segmento offshore e o Exército, eu tenho possibilidade de ter uma sustentação econômica, daria para chegar num ponto de equilíbrio financeiro”, explica o pesquisador do IME.

Coronel Nogueira ressalta que o Brasil abre agora uma nova fase de oportunidades no ramo das comunicações. “O 5G, quinta geração de telecomunicações, pode viabilizar um ressurgimento da indústria de eletroeletrônicos e de telecomunicações no Brasil, assim como ocorreu na década de 70 quando havia o sistema Eletrobras estruturado.”

Os desafios da Comunicação na Indústria

Para o Gerente de Tecnologia da IACIT, engenheiro Euclides Pimenta, a celebração do Dia das Comunicações é importante para preservação da memória de Rondon e do seu empenho em integrar o Brasil por meio das linhas telegráficas, um esforço na área das Comunicações que precisa ser mantido para garantia da soberania nacional.

“Na área da Defesa, os desafios ainda são enormes, não apenas nas comunicações táticas, entre batalhões e unidades de combate, mas também na chamada Guerra Eletrônica, que apesar de não estar diretamente no campo das comunicações, está relacionada à inteligência de sinais eletrônicos, dividida na parte de Comint (Inteligência de Comunicações) e Elint (Inteligência Eletrônica)”.

Pimenta concorda com o Coronel Nogueira sobre a necessidade de um modelo que garanta recursos em setores estratégicos na Defesa, visando garantir a autonomia do Brasil.

“O país tem muitos talentos, profissionais capacitados, indústrias de ponta, e institutos de pesquisa que podem contribuir de forma mais efetiva para a conquista dessa autonomia nacional, mas muitas vezes esbarra na escassez de incentivos e investimentos”.

O engenheiro da IACIT lembra que os investimentos feitos na área da Defesa, além dos benefícios intrínsecos ao escopo do projeto original, geralmente revertem em produtos e serviços para toda a sociedade.

“Muitos dos benefícios que hoje todos têm acesso foram desenvolvidos a partir de tecnologia desenvolvida com fins militares, a internet é um exemplo disso. É comum a geração de uma espécie de spin off que podem ser aplicadas em segmentos totalmente diferentes”, comenta Euclides.

Um nome esquecido

Neste Dia Nacional das Comunicações, Coronel Nogueira faz questão de lembrar de outro brasileiro, o Padre Roberto Landell de Moura (1861-1928), que fez grandes contribuições para o desenvolvimento de novas tecnologias.

Dentre seus vários feitos, o que mais se destaca é uma expe­riência pioneira de transmissão sem fio realizada em 1894, dois anos antes do italiano Guglielmo Marconi (1874-1937), considerado o inventor do rádio.

Infelizmente o mérito do padre brasileiro é desprezado no exterior, mas no Brasil, Landell de Moura hoje é reconhecido pelo meio científico e pelo governo brasileiro, que o colocou no Livro dos Heróis da Pátria.

“Landell de Moura foi um grande cientista e inventor, infelizmente foi mal compreendido e não conseguiu apoio para desenvolver suas invenções”, comenta Coronel Nogueira.

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Fonte: Portal BIDS