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Um dos agentes duplos mais famosos da época da Guerra Fria, George Blake, morreu em 16 de dezembro de 2020, em Moscou, aos 98 anos de idade. Agente do MI-6, ele também trabalhou para a inteligência soviética por quase 10 anos, tornando-se um dos agentes mais valiosos da história da KGB.

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No Serviço Secreto da Rainha

Guerra da Coreia.
Guerra da Coreia. U.S. National Archives and Records Administration

George Blake nasceu em 1922, na Holanda, mas, após se mudar para o Reino Unido na Segunda Guerra Mundial, alistou-se na Marinha Real e logo foi recrutado pelo serviço de inteligência britânico MI-6.

Blake era especialista em URSS, aprendeu russo e foi enviado para Seul como vice-cônsul da embaixada britânica. Sua verdadeira tarefa, entretanto, era coletar informações sobre o Extremo Oriente soviético, Sibéria e Manchúria.

Quando começou a Guerra da Coreia, Seul foi capturado pelo exército norte-coreano e o espião britânico foi preso.

Blake chega a Oxfordshire após ser libertado em 22 de abril de 1953.
Blake chega a Oxfordshire após ser libertado em 22 de abril de 1953. Getty Images

Durante os quase três anos que passou na prisão, Blake leu “O Capital”, de Karl Marx. “O livro mudou profundamente minha consciência e teve quase o mesmo efeito que a Bíblia. Eu desejava apaixonadamente aproximar o futuro brilhante descrito por Marx. Hoje, entendo que era muito ingênuo, que agi sob a pressão de ideais românticos, mas foi assim que me tornei um comunista devoto”, escreveu Blake.

Chocado com os bombardeios dos Estado Unidos na Coreia do Norte, Blake decidiu cooperar com a União Soviética, mas sua lealdade tinha uma condição: ele forneceria a Moscou apenas informações relativas aos países-membros do Pacto de Varsóvia. Ele se recusou a receber qualquer quantia por seus serviços.

Agente soviético

O túnel de Berlim descoberto pelos soviéticos.
O túnel de Berlim descoberto pelos soviéticos. Global Look Press

George Blake regressou ao Reino Unido já como agente da URSS. Depois de ocupar o cargo de vice-chefe do departamento de operações técnicas do MI-6, ele foi enviado a Berlim, onde começou a passar a Moscou as informações sobre o que os britânicos e norte-americanos sabiam sobre os agentes secretos soviéticos e suas identidades. Naquela época, Blake conseguiu revelar os nomes de cerca de 400 oficiais e agentes do MI-6.

No início dos anos 1950, os serviços secretos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha realizaram a operação “Ouro”, que envolvia a construção de um túnel subterrâneo sob Berlim Ocidental para interceptar todas as comunicações da sede das Forças Soviéticas na Alemanha. Graças a Blake, os soviéticos souberam da operação antes da construção. No entanto, para não perder o valioso agente, a operação foi autorizada a prosseguir. Por quase um ano, a CIA e o MI-6 receberam desinformações cuidadosamente planejadas, até abril de 1956, quando o túnel foi “acidentalmente” descoberto por soldados soviéticos.

Mikhail Golenevski.
Mikhail Golenevski. Arquivo

O disfarce de Blake foi descoberto por um agente da inteligência polonesa, Mikhail Golenevski. Em 1961, Blake foi preso e condenado a 42 anos de prisão.

Vida nova

Cinco anos mais tarde, George Blake conseguiu escapar da prisão londrina Wormwood Scrubs e voltar à Alemanha Oriental, de onde foi transferido para a União Soviética. Ele deixou em Londres os três filhos e a esposa, que se divorciou dele.

Fotografias do fichamento de George Blake na prisão, em 1961.
Fotografias do fichamento de George Blake na prisão, em 1961. Getty Images

“Sempre fiquei impressionada com a possibilidade de Blake de se adaptar”, disse sua sobrinha, Silvie Breban. “Ao contrário de outros agentes britânicos, George nunca experimentou dificuldades na Rússia. Logo após chegar a Moscou, ele foi a um bar, onde bebeu vodca e comeu um sanduíche de caviar por um preço muito baixo. Então, ele disse: ‘um país onde todos podem comprar caviar é o berço do comunismo’.”

Na URSS Blake recebeu um novo nome, Gueôrgui Ivánovitch Bekhter, tornou-se coronel da KGB e treinou agentes soviéticos. Bekhter recebeu vários prêmios estatais da URSS, incluindo a Ordem de Lênin e a Ordem da Bandeira Vermelha.

Muitos anos depois, o lendário espião se encontrou com os filhos. Eles não aprovaram suas ações, mas entenderam os motivos de seu pai. Segundo Blake, eles conseguiram estabelecer relações muito boas.

Após a Guerra Fria e a queda da União Soviética, George Blake continuou a ser um comunista devoto até o fim da sua vida. “Faltou a vitória do comunismo. O que foi construído na URSS e na China está longe dos ideais que defendi. A URSS assumiu a responsabilidade por esse grande experimento, mas não terminou bem. […] As décadas passarão e o mundo perceberá que não pode haver outro modelo de sociedade além do comunismo, e todas as guerras cessarão”, disse.

Fonte: Russia Beyond

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).