Claudio Sassaki Heloisa Lisboa

À medida que a globalização e os rápidos avanços da tecnologia continuam a transformar o espaço cívico e o mundo do trabalho, os sistemas de educação têm se tornado cada vez mais desconectados das realidades e necessidades de sociedades e economias globais. No contexto da interrupção das atividades – resultado da crise sanitária global –, os ensinos fundamental e médio têm um papel crítico a desempenhar na preparação dos cidadãos globais e dos trabalhadores do futuro; a Educação Infantil, que é fundamental para preparar as crianças para o resto da vida, tem enfrentado grandes desafios para conseguir se conectar com os pequenos e, ao mesmo tempo, efetivar a alfabetização deles dentro das casas. Os modelos educacionais devem se adaptar para equipar esses estudantes com as habilidades destinadas a criar um mundo mais inclusivo, coeso e produtivo.

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A análise do Fórum Econômico Mundial, contida no estudo Escolas do Futuro: definindo novos modelos de educação para a Quarta Revolução Industrial, aponta para oito características críticas para a transformação do conteúdo e de experiências de aprendizagem que dialogam com as demandas do século XXI. Vou me ater a comentar somente a quinta: aprendizagem personalizada e individualizada. Nela, a recomendação de que devemos sair de um sistema padronizado para um novo integralmente baseado em diversas necessidades individuais e flexível o suficiente para permitir que cada aluno progrida em seu próprio ritmo. E o que isso tem a ver com tecnologia? Praticamente tudo!

Está claro para todos nós que os avanços tecnológicos são exponenciais. Mas, como pensar na tecnologia dentro de um contexto que leve a educação a um novo patamar? Há alguns anos, a inteligência artificial tem sido posicionada como o ápice da tecnologia para a educação. Muitos acreditam que somente a tecnologia, de modo geral, é capaz de abrir espaço para a inovação educacional, sobretudo em um contexto pré-pandêmico em que crianças e jovens já gastavam duas vezes mais tempo diante das telas – televisão, computador, smartphone e tablet – do que na escola. Um pensamento mais criterioso, entretanto, mostra que inovar na educação, com o apoio da tecnologia e em um cenário híbrido, requer analisar os contextos específicos, objetivos mais amplos e sempre considerando a intencionalidade pedagógica no planejamento e uso dela em sala de aula.

Para tornar mais claro o potencial da tecnologia para alavancar a educação, destaco três ganhos de eficiência no uso de inteligência de dados, sendo o primeiro, o estímulo da aprendizagem via personalização – a defendida pelo Fórum Econômico Mundial. Essa conquista está associada à possibilidade de o professor enxergar cada aluno em sua individualidade, ou seja, ao conhecer melhor o estudante – com potencialidades e dificuldades –, o educador pode criar planos e atividades educacionais que elevem o grau de aprendizagem individual. Elevar a qualidade do tempo do professor é o segundo tópico que destaco. Com o uso da tecnologia, sobretudo a ciência de dados, o professor tem as tarefas mais burocráticas resolvidas pela inteligência de máquina, deixando a ele mais tempo para aprimorar metodologias pedagógicas e para a análise de dados que trazem evidências do nível de aprendizado de cada aluno e turma. E, aqui, está o terceiro: metrificação, ou seja, medir o desempenho dos estudantes com uso de dados – evidências de que o conteúdo foi realmente assimilado e as habilidades e competências plenamente desenvolvidas. Esse mapeamento de performance pode determinar, por exemplo, planos educacionais individuais e coletivos; o educador pode medir a evolução dos alunos e criar formas de auxiliar na melhora de desempenho. Sem contar a visibilidade que esses insumos produzem para a família. Os dados trazem um real protagonismo para alunos, educadores e responsáveis.

Para tornar tangível esse potencial da inteligência de dados, peço licença para remeter o exemplo da Geekie – referência em educação com apoio de inovação no Brasil e no mundo. Há quase uma década usamos a inteligência artificial em ferramentas e plataformas criadas pela edtech. Com uma visão pragmática e especializada, temos desenvolvido formas inovadoras de fazer uso da tecnologia e de metodologias para elevar os processos de aprendizagem a um nível coerente com as necessidades dos estudantes do século XXI. Não se trata de automatização ou de digitalização, mas da possibilidade inovadora de personalizar, canalizar o tempo dos educadores e gestores para o que realmente importa e utilizar os recursos e as metodologias capazes de apoiar uma educação coerente com as necessidades dos nossos alunos.

Na sala de aula, os ganhos do uso da Geekie One – plataforma de educação baseada em dados que representa a evolução das apostilas e dos livros didáticos, promovendo uma educação mais ativa, visível, personalizada e conectada com as necessidades e os objetivos de cada estudante – são indiscutíveis: ela ajuda a personalizar o aprendizado, auxilia professores no planejamento de aulas e habilita os alunos com as capacidades digitais. Trata-se de um ensino que traz visibilidade e informação para a coordenação, os docentes, estudantes e as famílias. Com o apoio da inteligência artificial e inteligência de dados, a Geekie One torna visível o aprendizado dos estudantes – com essa visibilidade, a comunidade escolar pode ter melhores resultados. Nas escolas que fazem uso da plataforma, docentes e familiares conseguem visualizar de forma mais prática e direta, por exemplo, quais alunos tiveram um desempenho médio 15% superior em provas de conteúdos avaliados pelos docentes como bons ou excelentes.

A plataforma mostra que 85% dos estudantes, que tiraram mais de nota oito nas provas, apresentaram um desempenho maior do que 70% em exercícios diários. Essas evidências, coletadas nas análises de dados da Geekie One, levaram em conta mais de 1,5 milhão de atividades e mais de 100 mil provas ao longo de 2020, em mais de 250 escolas parceiras. Com elas, gestores e coordenadores conseguem tomar decisões pedagógicas mais assertivas e pautadas na realidade de cada estudante, turma ou professor. As famílias, também, têm a oportunidade de participar de forma mais ativa na educação dos filhos, apoiando-os com base nas dificuldades deles.

Um dos exemplos de funcionalidade da Geekie One: o professor pode criar provas on-line e off-line, dissertativas ou alternativas para diferentes turmas, baseado no conteúdo ministrado com assertividade e rapidez; a correção das questões conduzidas digitalmente resulta em relatórios individuais e da classe que mostram evidências reais do aprendizado. Esses dados gerados podem ser usados de diferentes maneiras, inclusive, para nortear possíveis ações de aprofundamento do conteúdo ou orientações individuais; ou para trazer mais visibilidade às famílias sobre o desempenho e engajamento dos filhos nas aulas e atividades, tornando-as, assim, mais corresponsáveis pelo desenvolvimento dos estudantes dentro e fora da escola.

Por último, gostaria de salientar que, nas mãos de alunos, professores, gestores e família, os dados trazem transparência e diálogo ao ambiente escolar, além de produzir evidências de aprendizado para avaliações de novas competências demandadas, inclusive, pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). As tecnologias trazem benefícios exponenciais porque produzem dados que são pontos de partida para diálogos e reflexões; eles embasam decisões pedagógicas que garantem o alcance das expectativas de aprendizagem definidas. Isso acontece de forma transversal entre estudantes e famílias – que acompanham o desenvolvimento individual e da equipe docente.  A análise de dados e a tomada de decisão com base em evidências são pilares da visão pedagógica que representa uma Nova Era da Educação.

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Claudio Sassaki | Graduado em Arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Educação pela Stanford University e cofundador da Geekie, empresa que desenvolveu a primeira plataforma de educação baseada em dados no Brasil. O especialista tem atuado com estudantes e educadores no desenvolvimento de iniciativas inovadoras que potencializam a aprendizagem. A Geekie já impactou mais de 12 milhões de estudantes de 5 mil escolas brasileiras. Entre os reconhecimentos conquistados, Sassaki recebeu os títulos de Empreendedor do Ano (Ernst Young), Empreendedor Social (Fundação Schwab) e Innovation Fellow (Wired Magazine). Teve oportunidade de contribuir, como palestrante, com o Fórum Econômico Mundial; a Conferência Global de Educação, de Harvard; SXWEdu; Citizen Education; e TEDx. Vive em São Paulo com a esposa e quatro filhos.

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).