O Centro de Estudos Estratégicos do Exército completará, no próximo mês de julho, 20 anos de existência. Trata-se de um marco importante, tendo em vista a relevância que o CEEEx assumiu ao longo dessas duas décadas, tanto como estrutura que subsidia o planejamento estratégico da Força Terrestre quanto por suas contribuições na reflexão e na elaboração do pensamento prospectivo em Defesa Nacional.

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O Centro foi criado em 2003, nos primeiros anos do século XXI, em um contexto marcado pelo elevado grau de incerteza e de insegurança. Viviam-se tempos de mudanças rápidas e constantes. O avanço acelerado da globalização, impulsionado pela revolução técnico-científico-informacional, materializada pelo alcance mundial da internet, gerava um ambiente permeado por características como volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, conforme acrônimo VUCA (em inglês: volatility, uncertainty, complexity e ambiguity) cunhado pelo exército norte-americano no início dos anos 1990. Esse contexto exigia das organizações desafios constantes em relação ao seu planejamento futuro.

Para as organizações militares, isso não foi diferente. Essas duas últimas décadas testemunharam mudanças substanciais no emprego militar, cujo espectro de atuação foi se tornando cada vez mais amplo e complexo, incluindo desde aspectos ligados a ilícitos transnacionais até o retorno dos tradicionais contenciosos geopolíticos no tabuleiro internacional. Diante de um futuro incerto, fazia-se necessário aprimorar o planejamento estratégico das organizações, criando-se estruturas capazes de fornecer aos gestores uma abordagem sistêmica para a melhor compreensão das mudanças e tendências futuras.

Nesse sentido, a criação do CEEEx, nos primeiros anos deste século, demonstra a importância que o Exército Brasileiro (EB) dedica ao seu planejamento futuro. Na realidade, a história mostra que, em termos de planejamento estratégico, essa atenção é anterior. Vale destacar que, em 1985, no contexto do pós-Guerra das Malvinas, o EB, por meio do Estado-Maior do Exército (EME), criou o Sistema de Planejamento Estratégico do Exército (SIPLEx), com a finalidade de estabelecer as bases do Planejamento Militar Terrestre e de restruturação da Força. Desde sua criação, o SIPLEx vem sendo atualizado em ciclos periódicos, considerando-se horizontes temporais de 4 anos. Uma das fases mais importantes para a atualização do SIPLEx é denominada de “Análise Estratégica”, fase que lida diretamente com os estudos prospectivos, envolvendo diagnóstico estratégico (fortalezas e fraquezas internas; ameaças e oportunidades externas), elaboração de cenários e indicações estratégicas.

Apesar de essa fase constar no SIPLEx desde a sua criação, o EB se ressentia da necessidade de uma estrutura permanente que pudesse desenvolver estudos de natureza prospectiva, como subsídio para o seu planejamento estratégico, o que veio a ser alcançado com a criação do CEEEx em 2003.

Dentre os estudos preliminares para a criação do Centro, merece destaque o artigo do então Cel Inf Ruy César Brandi da Silva, publicado na revista da Escola Superior de Guerra (ESG) com o título “O emprego de cenários prospectivos como suporte do planejamento estratégico do Exército Brasileiro”. Nele, o Cel Brandi sugeria a criação de uma Assessoria de Planejamento Estratégico para o Exército (APEEx), ligada diretamente ao Chefe do EME, “com a missão primordial de construir e monitorar os cenários necessários e imprescindíveis ao suporte do SIPLEx”.

Tomando por base esse artigo, o então 3º Subchefe do Estado-Maior do Exército, General de Divisão Rui Monarca da Silveira, elaborou o documento “Centro de Estudos Estratégicos do Estado-Maior do Exército: uma proposta”, datado de 8 de maio de 2003, segundo o qual, para que o EB pudesse conduzir suas ações futuras, deveria “guiar-se por permanente avaliação da conjuntura que permita clara previsão das consequências de cada rumo adotado (…), por meio de análise de trabalhos publicados e de estudos prospectivos”. O fato é que, em 14 de julho de 2003, por meio da Portaria nº 051-EME, de 14 Julho de 2003, cria-se o Centro de Estudos Estratégicos do Exército.

Ao longo dessas duas décadas de existência, o CEEEx tem se destacado como estrutura fundamental na formulação do pensamento estratégico do EB, por meio do desenvolvimento de avaliações estratégicas, investigações e debates prospectivos de interesse da Força.

Dentre as entregas do CEEEx ao longo desse período, os cenários prospectivos merecem destaque. O primeiro grande esforço de sistematização de um cenário prospectivo pelo Centro ocorreu ao longo de 2005, com o desenvolvimento do projeto “Cenários Prospectivos para o EB em 2022”. Por sua vez, a partir de 2010 passou-se a produzir o cenário “Exército Brasileiro 2030”. Neste, merece destaque a participação, em sua elaboração, do Grupo de Estudos e Planejamento Estratégico do Exército (GEPEEx). Composto por oficiais superiores representantes dos órgãos de direção-geral, setorial e operacional, além dos Órgãos de Assistência Direta e Imediata ao Comandante do Exército (OADI) e dos Comandos Militares de Área, o GEPEEx foi criado em 2013 com a finalidade principal de emitir pareceres sobre assuntos político-estratégicos, na área de atuação desses órgãos, além da atualização e do monitoramento dos cenários prospectivos, em suporte ao EME.

Ainda na mesma temática, o cenário intitulado “Força Terrestre 2035” foi elaborado pelo CEEEx, ao longo dos anos de 2015 e 2016, em parceria com o Instituto SAGRES, tendo como objetivo estudar a atuação da Força Terrestre em um ambiente operacional de amplo espectro, tendo como horizonte temporal o ano de 2035.

Ao longo dessas duas décadas de trajetória, merece destaque a criação, em 2012, do Núcleo de Estudos Prospectivos (NEP), estrutura de apoio aos Estudos Estratégicos que tem como objetivo selecionar pesquisadores para a produção de conhecimento de natureza prospectiva. Ao longo da última década, o NEP tem proporcionado maior qualidade nos estudos e nos planejamentos estratégicos no âmbito do Estado-Maior do Exército, além de agregar visões diferentes, de outros setores da sociedade, de cenários que impactam a missão e a visão de futuro do Exército.

Dessa forma, o NEP combina de maneira aderente o conhecimento científico a demandas apresentadas pelo Exército, gerando insumos ao planejamento estratégico do Exército, sem perder, entretanto, o rigor acadêmico esperado. Além da publicação dos resultados das pesquisas por meio de periódicos e livros, as atividades do NEP proporcionam a realização constante de workshops, possibilitando a construção de espaços de discussão e a troca de ideias entre pesquisadores e analistas militares, além da elaboração de “policy papers”, por meio dos quais os pesquisadores apresentam implicações estratégicas e recomendações ao SIPLEx.

O fato é que, ao longo desses 20 anos, o CEEEx tem contribuído sobremaneira para o desenvolvimento do pensamento estratégico, não só para o EB, mas para todo o Estado Brasileiro. Muitas são as contribuições materializadas em formas de livros, periódicos e eventos diversos, nos quais pode contar com a sua vasta rede de parceiros estratégicos, que incluem universidades, think tanks, centros de estudo, órgãos do Estado, do Brasil e de Nações Amigas.

Ao longo desse período, temas e conceitos ligados à Defesa Nacional, como cibernética, dissuasão extrarregional, guerra híbrida, antiacesso e negação de área, entre tantos outros, foram estudos desenvolvidos de forma seminal pelo CEEEx, revelando sua importância para o pensamento estratégico nacional.

Os desafios militares futuros são enormes e complexos. Nesse sentido, o papel do CEEEx, oferecendo avaliações estratégicas e estudos prospectivos, tende a ganhar cada vez mais relevância. Não será tarefa fácil, afinal, esses desafios devem ser caracterizados pela complexidade e por sinais de imprecisão. Nesse sentido, ‘imaginar o futuro nunca será “preciso”, mas será sempre necessário!”. Ou seja, não se pode ter a pretensão de “acertar” o futuro, mas parece cada vez mais claro que planejar o futuro, tendo por base informações metodologicamente tratadas e analisadas, será sempre mais seguro que se guiar apenas pela intuição dos decisores. Eis aí o grande valor de um centro de estudos estratégicos.

Parabéns CEEEx, pelos seus 20 anos. Parabéns, Exército Brasileiro, por mais essa decisão acertada!

Autor: Cel QCO Oscar Medeiros Filho
Fonte: eBlog do EB
Marcelo Barros, com informações do Exército Brasileiro
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).