ABIN no Paraguai: entre o acerto técnico e o erro político

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Entre 2022 e 2023, a inteligência brasileira operou como operam os grandes — com precisão técnica e foco em interesses nacionais. A ABIN executou uma ação clássica de Estado, mas esbarrou no velho problema: a diplomacia do pedido de desculpas. O Brasil parece ainda não ter entendido que inteligência é uma ferramenta de poder, não um erro a ser corrigido em nota oficial.

Operação limpa e legítima: o básico da inteligência moderna

A Agência Brasileira de Inteligência utilizou o que há de mais comum em operações cibernéticas de coleta de informações: Cobalt Strike, phishing direcionado, roubo de cookies de sessão, senhas e dados de e-mail. Trata-se do “kit padrão” da espionagem contemporânea. Nada de novo ou criminoso — apenas o necessário para obter vantagem informacional sobre autoridades paraguaias em uma negociação de bilhões envolvendo a Usina de Itaipu.

Essa ação é textbook. Qualquer país sério, diante de um ativo estratégico como Itaipu, investiria pesado em inteligência de antecipação. O alvo, nesse caso, não era político por capricho — era geopolítico, energético e econômico. A ABIN agiu com profissionalismo técnico e foco claro: proteger o interesse nacional brasileiro. A falha não está na operação. Está no pós-operação.

O Brasil precisa parar de se envergonhar de ter inteligência

O verdadeiro escândalo não é a espionagem. O escândalo é o desconforto institucional que o Brasil ainda demonstra com o uso da própria inteligência. Países como Estados Unidos, China, Rússia e Israel não apenas operam suas agências com amplitude — como também negam com firmeza ou simplesmente ignoram qualquer exposição pública de suas ações.

Quando a NSA foi exposta espionando Angela Merkel, os EUA não pediram desculpas à Alemanha. Quando a China vazou 147 milhões de dados da Equifax, o foco foi no estudo de padrões comportamentais e digitais da população americana, não em relações públicas. Israel jamais admitiu o Stuxnet oficialmente — mas a ação é estudada como uma das mais sofisticadas da história.

Enquanto isso, o Brasil, ao ter uma de suas poucas ações de inteligência bem-sucedidas reveladas, reage com constrangimento, envia embaixador para dar explicações e pausa negociações estratégicas. Esse comportamento revela um país que ainda trata inteligência como crime, e não como ferramenta de soberania.

O governo errou feio ao recuar e expor a própria jogada

A diplomacia brasileira perdeu a oportunidade de manter a posição clássica em casos de inteligência: silêncio ou negação técnica. Ao invés disso, adotou o caminho do pedir desculpas, congelar negociações com o Paraguai e, na prática, admitir uma ação legítima como se fosse um escândalo internacional.

Esse tipo de recuo compromete a autoridade do Brasil no cenário internacional, enfraquece a confiança em suas instituições de Estado e passa a mensagem de que o país não sustenta as próprias estratégias. Inteligência, por definição, é jogo bruto. Quem entra precisa entender que, quando pego, nega. Sorri. E nega de novo. Não há pedido de desculpas no mundo da geopolítica realista.

O Brasil tem capacidade técnica, agentes bem formados e operações eficientes. Falta ainda espinha institucional para sustentar sua atuação como potência regional com ambições globais. Enquanto a ABIN joga certo e o governo joga para agradar, a soberania brasileira vai ficando em segundo plano — e o país segue pedindo desculpas por agir como adulto em um mundo de gigantes.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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