Leonardo Vichi

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Com a crise política e a forte polarização no país, as eleições de 2018 oferecerão enormes desafios no combate às Fake News. O fenômeno das notícias mentirosas, que se popularizou após as eleições presidenciais de 2016 nos EUA, fez propagar uma guerra de informações que, segundo especialistas, pode ter afetado os resultados de plebiscitos na Europa, como o do Brexit e da Independência da Catalunha.

A célula de Defesa Cibernética do Observatório Militar da Praia Vermelha conversou sobre o tema com o Prof. Dr. Marco Aurélio Chaves Cepik, docente do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Entre os assuntos abordados, Cepik ressaltou que a governança do Brasil no espaço cibernético se tornou um exemplo para o mundo. Contribuindo para isso, destacou os avanços na legislação como a criação do Marco Civil da Internet e do Comitê Gestor da Internet que se tornaram uma referência em termos de governança cibernética.

No ponto de vista da segurança da rede e das infraestruturas de informação, o Brasil tem desenvolvido medidas avançadas, como a criação de uma Doutrina de Defesa Cibernética e um manual de campo de guerra cibernética para o Exército Brasileiro. “Eu creio que esses desenvolvimentos no Brasil têm estado a par do que está acontecendo no resto do mundo, inclusive em uma tentativa de verificar a pertinência ou não de separarmos um domínio operacional novo para o espaço cibernético” – afirma Cepik. A definição do ciberespaço como um domínio operacional próprio não é ainda uma unanimidade: os EUA definiram suas estratégias de defesa cibernética dentro desta definição, mas outros países buscam integrar a questão de outras maneiras, procurando uma compreensão sobre a digitalização e a condução da guerra no mundo contemporâneo. Para o professor Cepik,“mais do que especificar isso em um domínio operacional, este é um debate que está ainda em curso no Brasil e que é importante para o futuro da governança e da defesa cibernética no Brasil”.

De acordo com o professor da UFRGS, casos recentes como o do uso de dados de usuários do Facebook, divulgado pela Cambridge Analytica – empresa britânica de consultoria política que atua com análises realizadas por meio de mineração de dados – e a disseminação de notícias caluniosas sobre a vereadora carioca Marielle – assassinada em março deste ano – podem ser considerados fenômenos dos mais preocupantes. Hoje, a internet e as redes sociais possuem uma penetração alta na população brasileira que passa a se informar por meio dessas ferramentas. A manipulação de conteúdos se torna preocupante quando se nota que o “impulsionamento” pago pode ser usado para disseminação de notícias falsas e boatos. O fato de que a justiça brasileira tenha determinado que o Facebook retirasse conteúdos falsos e caluniosos da rede, segundo Cepik, “é uma sinalização importante da preocupação das autoridades brasileiras com a integridade da informação”.

O professor ainda ressalta que “em todos os índices internacionais de integridade eleitoral o Brasil se sai muito bem. O único problema mais grave que nós temos no Brasil, tradicionalmente, é uma excessiva concentração dos meios de comunicação nas mãos de algumas famílias proprietárias e portanto, uma baixa diversidade das fontes de informação geral para população. Se você traz isso para dentro da internet e ainda submete isso à força do dinheiro, os candidatos que tiverem mais condições de ‘impulsionar’ notícias, terão uma vantagem desproporcional com relações aos demais. Isso é um fenômeno mais geral, no qual se insere o problema das notícias mentirosas. As fake news são uma parte desse problema também, para o qual nós temos que contar com a educação do publico, a diversificação das fontes de informação e a possibilidade de ter regras de debate eleitoral, de preparação das eleições que garantam a melhor forma de informação para o público.”

Por fim, o Prof. Dr. Marco Aurélio Cepik destaca que o encurtamento do tempo das campanhas eleitorais e a diminuição do tempo de televisão contribuem negativamente para o problema, pois favoreceriam candidatos que teriam mais dinheiro em detrimento de quem tem mais ideias e propostas para a sociedade.

Fonte: Observatório Militar da Praia Vermelha

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).