A Marinha do Brasil na Batalha do Atlântico: resistência, sacrifício e soberania

Marinheiros em navio durante uma explosão no mar.
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A Batalha do Atlântico foi a mais longa campanha da Segunda Guerra Mundial, travada entre 1939 e 1945. Com mais de 72 mil vidas perdidas entre marinheiros aliados e cerca de 30 mil do lado do Eixo, esse confronto naval foi decisivo para o desfecho do conflito. Em meio a esse cenário dramático, o Brasil, ainda com um Poder Naval limitado, foi chamado a exercer um papel crucial na defesa das rotas do Atlântico Sul. Mesmo com sérias limitações estruturais, a Marinha do Brasil (MB) respondeu ao chamado com bravura e eficiência inesperada.

Início da guerra: quando o Brasil foi chamado ao mar

Corveta “Caravelas”, navio da Classe Carioca, construído no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro e integrante da Força Naval do Nordeste

O Brasil manteve-se neutro até 1942, mesmo com a tensão crescente nas Américas e o cerco naval promovido pelos submarinos do Eixo. A virada veio com os ataques sucessivos a navios mercantes brasileiros — ainda em águas neutras — o que forçou o governo a declarar guerra à Alemanha e à Itália. A Marinha do Brasil (MB), apesar de subdimensionada, assumiu a responsabilidade pela defesa das rotas marítimas entre a América do Sul e os Estados Unidos, fundamentais para o esforço aliado.

A ameaça no mar era concreta: submarinos alemães e italianos torpedeavam embarcações civis e militares para sufocar o fluxo logístico. Sem proteção, o litoral brasileiro tornou-se vulnerável. A resposta veio com a reorganização da estrutura naval, a ativação de comandos regionais e a formação da Força Naval do Nordeste (FNN).

Adaptar para vencer: navios antigos, coragem renovada

Marinheiros operando canhão no navio durante guerra.
Militares da Marinha do Brasil combatendo as Forças inimigas

A frota brasileira era composta, em sua maioria, por navios da década de 1910, já obsoletos diante dos modernos submarinos do Eixo. Faltavam meios, tecnologia e doutrina para a guerra antissubmarino. A parceria com os EUA — via Lend-Lease — garantiu o fornecimento de embarcações e treinamento.

Foi assim que chegaram os caça-pau (navios leves de casco de madeira) e depois os mais resistentes caça-ferro. Pequenos, barulhentos, e de difícil manobra, eles exigiam coragem extrema da tripulação. Ao mesmo tempo, o Brasil construiu contratorpedeiros nacionais como os da Classe M, marco de modernização da indústria naval.

Mais do que equipamento, a MB precisou construir uma nova doutrina: organização de comboios, regras de silêncio, patrulhamento costeiro e uso de sonar. Com isso, a Marinha passou de força costeira a operadora de rotas estratégicas internacionais.

Mar em guerra: o cotidiano dos marinheiros brasileiros

Marinheiro observa navio no mar com holofote.

O teatro de operações da Marinha era hostil: o Atlântico Sul, sob ataque constante. A vida a bordo era marcada por vigílias exaustivas, alimentação precária, escassez de água doce e clima severo. Marinheiros dormiam amarrados para não serem jogados pelas ondas, e viviam sob o som repetitivo do sonar, temendo o eco de um submarino.

Mesmo assim, entre 1942 e 1945, a Marinha conseguiu escoltar mais de 3 mil navios mercantes e militares, totalizando 600 mil milhas marítimas navegadas. Foram 575 comboios organizados, com baixíssimos índices de perda: apenas 0,09% dos navios protegidos foram afundados.

Além das rotas entre Recife, Rio de Janeiro e Trinidad, houve comboios especiais, como os que levaram a Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália. Os navios brasileiros participaram da segurança de todas essas missões.

Do litoral ao comando: o legado da Marinha na 2ª Guerra

A atuação da MB ampliou-se com a criação da 4ª Esquadra Aliada, sediada em Recife e composta por navios brasileiros e norte-americanos. À medida que a MB ganhava capacidade operacional, os EUA transferiam a ela a responsabilidade por mais trechos do Atlântico Sul.

Ainda que a aviação tenha sido responsável pelas destruições de submarinos, a MB foi essencial para a defesa logística, mantendo rotas abertas para tropas, suprimentos e petróleo. A cooperação com a Força Aérea Brasileira (FAB) e com o Exército no litoral consolidou uma estrutura de defesa conjunta, até então inédita no país.

O resultado foi um salto qualitativo na formação de pessoal, no uso de tecnologia e na criação de doutrina tática. Ao fim da guerra, a Marinha brasileira era outra: mais moderna, mais capaz e com um novo lugar no cenário das Forças Armadas.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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