Imagem: Pikist

Ao longo da História, os seres humanos têm desenvolvido ferramentas que permitem multiplicar o rendimento do nosso esforço. Buscamos automatizar tarefas para reduzir o tempo e o esforço para atingir um objetivo, aumentando, portanto, nossa produtividade. À medida que criamos novas ferramentas tecnológicas, transformamos a forma como trabalhamos e mudamos como a sociedade se organiza. A eletricidade, por exemplo, virou o símbolo da modernidade ao se tornar a fonte de energia que impulsionou a Segunda Revolução Industrial e desencadeou uma série de transformações que moldaram os pilares da sociedade em que vivemos até hoje.

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Atualmente muito se tem  falado sobre a inteligência artificial (IA). Vale ressaltar que a IA não se trata de um campo novo da ciência. Ela surgiu nos anos 50 e desenvolveu-se ao longo das décadas. Mais recentemente, ela ganhou pelo menos duas capacidades notáveis que aumentaram sua popularidade.

A primeira é o autodidatismo. Esta capacidade permite que alguns algoritmos de IA aprendam sozinhos a executar missões sem a necessidade de um humano para programar previamente as regras no computador. Assim, por exemplo, para que o computador aprenda a jogar xadrez nesse novo paradigma, não há necessidade de que alguém o programe para isso. Ele apenas precisa observar partidas para que aprenda as regras e, em pouco tempo, consiga atingir o nível de conhecimento de um campeão de xadrez, tornando-se praticamente invencível. Tal capacidade, conhecida como aprendizado de máquina, permite que o computador aprenda a extrair regras a partir dos dados, encontrando relações muitas vezes “invisíveis” para os humanos, devido ao grau de complexidade frente à nossa capacidade.

A segunda capacidade é a previsão do futuro. Ao aprender as regras que regem a relação entre diversas variáveis, tais técnicas de IA passam a ter a capacidade de prever acontecimentos futuros. A título de exemplo, é possível inferir comportamentos futuros a partir dos dados históricos do comportamento de compra dos clientes. E ao ter projeções mais precisas, as empresas podem alocar seus recursos limitados de forma mais assertiva para maximizar os resultados, gerando assim um efeito exponencial.

Amazon é um excelente exemplo do resultado da utilização dessas capacidades de forma sistemática. Fundada em 1994, a empresa atingiu o faturamento de US$ 1,6 bilhão, em 1999, e US$ 386 bilhões, em 2020 (aproximadamente R$ 1,9 trilhão), cifra equivalente a um quarto do PIB Brasileiro no mesmo ano. Quando Jeff Bezos, seu fundador, trabalhou em Wall Street para David Shaw em seu Hedge Fund no início da década de 90, ele aprendeu sobre a importância de se utilizar os dados para extrair conhecimentos para alocar seus recursos de forma assertiva. Assim, desde muito cedo, ele estruturou a Amazon para coletar dados e utilizar a IA sistematicamente, como ele mesmo descreve em uma entrevista para o 60 minutes, em 1999. Atualmente, estima-se que em torno de 35% das vendas da Amazon sejam geradas pela utilização de sistemas de recomendação baseados em IA.

No entanto, em uma pesquisa recente que conduzi no Brasil, praticamente 50% dos entrevistados disseram acreditar que a IA irá causar pouca ou nenhuma mudança na forma como farão negócios nos próximos 5 anos. Tal resultado chama atenção diante de uma pesquisa conduzida em escala mundial, em 2020, que apontou que 85% dos líderes empresariais acreditam que a IA provocará muitas mudanças na forma como farão negócios nos próximos 5 anos.

Tal contraste torna-se ainda mais preocupante quando juntamos com o desempenho do Brasil no The Global IA Index de 2020, índice global que avalia os níveis de investimento, inovação e implementação de IA em 62 países. O 46º lugar do Brasil mostra que o assunto talvez não esteja sendo tratado com a devida atenção. Aliás, avalia-se que os países da América Latina terão uma participação de apenas 5,4% nos R$ 80 trilhões que, estima-se,  serão adicionados à economia mundial até 2030 pelo uso da IA.

Assim como a eletricidade transformou quase tudo há 100 anos, hoje tenho dificuldade em pensar em uma indústria que a IA não transformará nos próximos anos”, declarou o Professor Andrew Ng, da Universidade de Stanford (EUA). De fato, a IA é como a nova eletricidade, e, tal como a eletricidade fez no passado, ela provocará mudanças profundas no trabalho, nas empresas, na sociedade, na economia, e, consequentemente, nos países.

Portanto, trata-se de um assunto estratégico, não apenas para as empresas como também para toda a sociedade brasileira, que requer ações urgentes frente ao risco de ficarmos para trás e vermos aumentar ainda mais a diferença de nossa produtividade e desenvolvimento econômico em relação aos países desenvolvidos nos próximos anos. Se a IA é a nova eletricidade, não podemos correr o risco de mais uma “crise energética”.

Fonte: Link Estadão