Rota do pré-sal e a proteção das infraestruturas submarinas: cenários de ameaça e estratégias de dissuasão

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Nas profundezas do Atlântico Sul, onde repousam cabos de dados, sensores militares e dutos que alimentam a economia nacional, trava-se uma guerra invisível. O pré-sal, vetor estratégico da soberania energética brasileira, tornou-se também um campo sensível de disputas híbridas, onde ameaças cibernéticas, sabotagens silenciosas e espionagem avançada se entrelaçam. Com bilhões de reais circulando sob as águas territoriais, proteger essas infraestruturas tornou-se missão prioritária do Estado brasileiro e, em especial, da Marinha.

Ameaças invisíveis e vigilância tecnológica

A defesa das infraestruturas submarinas brasileiras exige compreensão técnica das vulnerabilidades do ambiente marítimo. Sob as águas profundas, repousam cabos submarinos de comunicação, fundamentais para o tráfego da internet global e do sistema bancário, além de oleodutos e gasodutos que integram a malha logística do pré-sal. Esses ativos, que somam mais de 30 mil km no litoral brasileiro, são alvos potenciais de sabotagens físicas, ações terroristas e ataques cibernéticos.

Os riscos não se limitam à destruição física. A interceptação de sinais, a inserção de malwares em sensores submarinos e a manipulação de dados ambientais também representam vetores de ataque. Segundo especialistas, o domínio da tecnologia de sensoriamento remoto, inteligência de sinais (SIGINT) e vigilância subaquática é vital para detectar anomalias e antecipar ações hostis. O emprego de Veículos Submarinos Autônomos (AUVs) e estações fixas de monitoramento já faz parte do arsenal preventivo.

Soberania e segurança energética em tempos de interdependência

O Brasil depende intensamente da produção de petróleo e gás do pré-sal — responsável por mais de 75% da produção nacional — e da estabilidade das redes de cabos que suportam cerca de 97% do tráfego global de dados. Um ataque direcionado a essas infraestruturas afetaria desde a comunicação civil e militar, passando pela logística do agronegócio, até o sistema financeiro e o controle de satélites.

Em um mundo hiperconectado e em transição energética, defender essas infraestruturas é também garantir a autonomia estratégica do País. Por isso, cresce a necessidade de integração entre Defesa, Diplomacia, Indústria e Ciência & Tecnologia. A cooperação entre a Marinha, empresas estatais, operadoras de energia e provedores de rede torna-se inevitável. O conceito de segurança multidimensional — que inclui ameaças físicas, cibernéticas, ambientais e sociais — passou a nortear as políticas públicas do setor.

O protagonismo da Marinha no Atlântico Sul

Na interface entre o mar e o ciberespaço, a Marinha do Brasil emerge como principal protagonista na proteção desses ativos. Por meio do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), da Força de Submarinos, da estrutura de Defesa Cibernética e das Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), a Força Naval atua na dissuasão estratégica e na vigilância contínua do mar territorial.

Além do monitoramento técnico, o poder dissuasório é construído com diplomacia naval, missões internacionais e interoperabilidade com forças parceiras. No atual tabuleiro geopolítico, o Atlântico Sul atrai o interesse de potências globais e empresas transnacionais. A vigilância e o controle das rotas submarinas que cruzam o pré-sal são não apenas uma questão de Defesa, mas também de afirmação do Brasil como potência marítima.

A convergência entre segurança marítima e defesa cibernética, como propõe a literatura recente, indica um novo paradigma para o século XXI. E, diante dos desafios emergentes, uma certeza permanece: o futuro da soberania nacional passa pelas profundezas do mar.

Referências

  • VICH, Leonardo Perin. A defesa da infraestrutura de cabos submarinos: por uma interface entre a defesa cibernética e a segurança marítima no Brasil. Revista da Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, v. 36, n. 75, p. 123–142, jan./abr. 2021. Disponível em: https://www.marinha.mil.br. Acesso em: 5 mai. 2025.

  • MINISTÉRIO DA DEFESA. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília: Ministério da Defesa, 2020. 72 p. (EMA 310-EDM-1ª Edição).

  • MARINHA DO BRASIL. Amazônia Azul: o mar que nos pertence. Brasília: Diretoria-Geral de Navegação, 2022. Disponível em: https://www.marinha.mil.br. Acesso em: 12 abr. 2025.

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